domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dia da Honra, ultradireita e nazismo

O tempo na Europa é de crise, terreno fértil para disseminação de idéias conservadoras. Com um discurso de apelo à segurança e à defesa dos ideais nacionais, grupos de direita e extrema-direita ganham importante espaço no cenário político, seja a leste ou oeste do continente. E esse contexto ajuda a trazer ainda mais dimensão a certas manifestações dessas entidades.



Um bom exemplo é o chamado "Dia da Honra" (Becsület Napja, em húngaro), celebrado todo dia 11 de fevereiro em Budapeste, Hungria – que já teve sua guinada à direita abordada neste blog. A data lembra a queda da cidade frente ao sítio imposto pelo Exército Vermelho soviético, que durou de 29 de dezembro de 1944 a 13 de fevereiro de 1945, data oficial da rendição da capital húngara. O clipe abaixo, da banda de Black metal húngara Heldentod, traz algumas imagens dessa batalha, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. Os acordes lembram a música Fear of the Dark, do Iron Maiden.



Os defensores de Budapeste– e homenageados no "Dia da Honra" – são as forças locais húngaras e a SS, tropa de elite da Alemanha nazista, que tinha a Hungria como aliada. Esse componente torna o Dia da Honra um evento para toda a extrema-direita europeia, reunindo grupos da Alemanha, Eslováquia, Bulgária e Sérvia. O vídeo abaixo, da edição do ano passado, dá uma dimensão do tamanho que o "Becsület Napja" (Dia da Honra, em húngaro) alcançou por lá, além de mais imagens da Budapeste em ruínas após o cerco.



Na página oficial do "Becsület Napja", uma mudança no evento em relação a anos anteriores: a troca de paradas grandiosas por atos menores em diversas regiões da cidade e o  incentivo a atos dentro das próprias casas húngaras. Confrontado com a crise econômica no país, tal alteração é bastante oportuna para os organizadores e serve como uma vitrine a mais, ao demonstrar conscientização sobre a atualidade húngara. Este outro vídeo abaixo é de um desses pequenos atos programados para o Dia da Honra de 2012.



Além da Hungria, outros países do leste europeu sediam ou se preparam para criar atos de glorificação à extrema-direita, como Estônia, Ucrânia. Uma reportagem do jornal La Vanguardia, que pode ser lida em português no portal Opera Mundi, aponta para um flerte da Europa Oriental com o nazismo e dá uma dimensão maior sobre esses eventos.

A guinada à direita e a falta de governos com valores democráticos não são uma novidade no Leste Europeu. No período Entreguerras (1919-1939), quando a região emergiu da queda dos impérios alemão, austro-húngaro, russo e otomano, regimes fortes dominaram praticamente toda a porção oriental do continente – com exceção da então Tchecoslováquia. Na Segunda Guerra Mundial a Alemanha de Hitler contou com apoio militar de nações como Romênia, Bulgária, Hungria, Eslováquia e Croácia (estas duas últimas surgidas temporariamente como Estados fantoches do Reich nazista), além de ter usado a seu favor os ressentimentos anti-URSS alimentados por nações como Ucrânia, Polônia, Belarus e Lituânia. Após a Segunda Guerra a região ficou sob a esfera de influência soviética e com governos quase sempre simpáticos e submissos a Moscou.

Somente com a queda da URSS que regimes com princípios democráticos surgiram no Leste. No entanto, adeptos da direita e extrema-direita, aproveitando-se do sentimento anti-URSS disseminado nos antigos satélites do Kremlin e do argumento de defesa dos valores nacionais, conseguiram sobreviver no cenário político e encontraram terreno fértil para crescerem com a atual crise europeia.

Estaria o Leste voltando ao mesmo patamar da década de 1930? Cravar essa possibilidade como algo concreto pode ser leviano. Mas o crescimento da extrema-direita no cenário político de cada país e na Europa deve ser acompanhado com muito cuidado pela comunidade internacional. O atual contexto é diferente daquela época e hoje não existe – pelo menos ainda – uma figura central como a de Hitler. Mas os efeitos que a escalada de totalitarismo e ódio causou no continente e mundo afora são bem conhecidos. 

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