segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Croácia aprova UE, mas abstenção preocupa

Em referendo, a Croácia aprovou o ingresso do país na União Europeia, já agendado para 1° de julho de 2013. Dos que compareceram à consulta, 66,24% votaram a favor da adesão e 33,16% se posicionaram contra. Mas se o governo celebra o aval dado pelas urnas, o mesmo entusiasmo não pode ser atribuído à população.

Isso porque, apesar da larga margem do sim sobre o não à entrada na UE, apenas 43.6% dos aptos a votar compareceram à convocação. Apesar de o ingresso na União Europeia ser defendido pelos principais partidos do país, a crise que o bloco e o euro enfrentam são usados como argumentos pelos opositores da adesão.

A situação atual da Grécia e os resultados ainda tímidos que Bulgária e Romênia, ambos na UE desde 2007, alcançaram desde então, ajudam a reforçar as objeções à adesão. Os contrários afirmam ainda apelam para outros argumentos, com forte conotação nacionalista, de que o país perderia soberania e colocaria em risco a identidade nacional.

Já os defensores dizem que a UE é vital para consolidar a paz e a recuperação econômica do país após a guerra de independência, encerrada em 1995. No entanto, a previsão é de que o PIB croata encolha 0,2% neste ano, o que aumenta a expectativa sobre os benefícios – ou frustrações – que a adesão pode trazer. Além do aval interno, a Croácia ainda precisa ter seu ingresso na UE aprovado pelos demais 27 membros. Entre eles, a Eslovênia, até agora a única ex-república iugoslava no bloco e que possui entraves fronteiriços a serem resolvidos com o governo de Zagreb. O fator “UE” pode ser usado por Ljubljana para forçar uma solução definitiva para o impasse, mas nada que seja suficiente para vetar o futuro novo membro.

A entrada da Croácia também pode ser vista como um alento às demais ex-repúblicas iugoslavas, como Sérvia e Bósnia, que também sonham em fazer parte dele. Mas a julgar pela duração total das negociações entre Bruxelas e Zagreb, iniciadas em 2005 e concluídas apenas recentemente, os demais aspirantes a candidatos à UE ainda têm um longo caminho pela frente. Para eles, ruim com a União Europeia em decadência, pior ainda sem ela.

sábado, 14 de janeiro de 2012

De surpresa em 1994, futebol da Bulgária definha

Uma votação na internet sobre o melhor jogador do futebol búlgaro em 2011 teve um fato inusitado. Na primeira fase da eleição, aberta ao público, a liderança coube a Boyko Borisov, 52, atual premiê do país e que atua em jogos esporádicos pelo Vitosha Bistritsa, clube da terceira divisão local. Em segundo aparecia o atacante Dmitar Berbatov, de fato este um nome importante do atual futebol búlgaro, atualmente reserva no Manchester United. E o terceiro colocado também era um personagem inusitado: Vasil Lukaev, jogador do Shipka Dragor, time amador do país.

Quando a votação foi fechada ao público e passou a ser feita somente entre os jornalistas, a “ordem” foi restabelecida. Nikolay Mikhailov, goleiro do Twente (Holanda) eleito o melhor jogador búlgaro de 2011 e com o primeiro-ministro bem longe das primeiras posições. Mas a brincadeira já estava feita e serve para ilustrar bem a situação do futebol no país.  Mas nem sempre foi assim.

Liderada pelo atacante Hristo Stoichkov (então uma das estrelas do Barcelona, ao lado de Romário e outros), a seleção nacional foi um das surpresas na Copa do Mundo de 1994, quando conquistou o quarto lugar após passar por times mais rodados, como o México e a então atual campeã Alemanha. Ainda no ano anterior, a Bulgária havia se classificado para o Mundial com uma vitória dramática fora de casa sobre a França.



Mas desde então, o futebol nacional vem definhando. A última grande competição da Bulgária foi a Eurocopa de 2004, em Portugal. Em Mundiais, a última aparição foi em 1998, quando não foi além da primeira fase. Atualmente o país disputa apenas as eliminatórias para o torneio continental e para a Copa, sempre com campanhas fracas.

Entre os clubes a situação é a mesma. Nas competições europeias, os times búlgaros em geral são eliminados ainda nas rodadas preliminares e, quando avançam, ficam pela fase de grupos. E além do momento ruim em campo e da falta de talentos, o futebol búlgaro é repleto de denúncias de corrupção e manipulação de resultados.

O premiê “homenageado” pela brincadeira na internet, aliás, divulgou uma carta na qual criticava a votação, pedia a anulação da mesma e a adoção de reformas para tirar a modalidade da má fase atual.

O atual presidente da Federação Búlgara de futebol é Borislav Mihailov, goleiro da seleção na Copa de 1994 e pai eleito melhor jogador do país. Nem sempre aqueles que brilharam nos gramados conseguem fazer bonito quando passam para cargos de direção, mas não deixa de ser um alento para o futebol búlgaro sonhar com dias melhores. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ex-Iugoslávia ressurge com o cinema

Em 2011 um longa intitulado A Serbian Movie deixou platéias estarrecidas com cenas para lá de fortes. A produção chegou a ser vetada em diversas mostras mundo afora – inclusive nas que ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas apesar do gosto polêmico – ou mesmo duvidoso – deste filme, a região dos Bálcãs vive um momento especial no cinema, o melhor desde o fim da antiga Iugoslávia.

É o que mostra uma reportagem publicada recentemente pelo jornal Herald Tribune (assinantes do portal UOL podem ler o texto em português neste link). A produção cinematográfica dos Bálcãs, que até o final da década passada era concentrada em assuntos ligados às guerras que assolaram a região nos anos 1990, vem ganhando temas mais diversificados. Filmes como “A Viagem” (Eslovênia), “Josef” (Croácia), “A Fita de Casamento” (Kosovo) e documentários como “A Longa Estrada pela História dos Bálcãs” e “Oktober” (ambos da Sérvia), foram elogiados pela crítica em festivais dentro e fora dos países da ex-Iugoslávia.

Além da boa safra de cineastas locais, a atual estabilidade geopolítica – o último conflito armado foi em 1999 – ajuda a atrair produções estrangeiras para a região. “In the Land of Blood and Honey”, de Angelina Jolie, está entre elas, com locações na Bósnia; entre outros exemplos podem ser apontados “O Corvo”, de Edgar Allan Poe e estrelado por John Cusack, e o filme “Coriolanus”, com Ralph Fiennes, ambos parcialmente rodados na Sérvia.

Ex-repúblicas se ajudam

A década de guerras também prejudicou seriamente a indústria cinematográfica local, que ainda carece de recursos técnicos e financeiros. Mas a forma encontrada para driblar esses obstáculos é um dos pontos de destaque nessa nova fase do cinema da região: a cooperação entre as antigas repúblicas iugoslavas. Por exemplo: um filme sérvio pode contar com recursos financeiros e equipamento vindos ao mesmo tempo da Bósnia, Croácia e Eslovênia. Tais produções são conhecidas como “domace”, termo sevo-croata que significa “feito em casa”.

Trata-se de um belo avanço em uma região que até hoje tem rusgas étnicas agravadas pelas guerras e que ainda custam a cicatrizar por completo – e que ganha ainda mais significado com o emprego do termo “domace”. E ainda, junto com a maior procura dos estrangeiros por locações para filmagens, ajuda a devolver à ex-Iugoslávia pelo menos parte da importância cinematográfica que desenvolveu desde a década de 1920 e que teve seu auge entre os anos 50 e 80 do século passado.

Dizer que o cinema pode ser um agente de reconciliação dentro da antiga Iugoslávia pode ser precipitado neste momento. Mas se na área cultural já é possível encontrar casos de superação desse passado doloroso, aumenta a esperança de que o mesmo possa acontecer em outros setores da política e da sociedade locais.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Hungria, nova dor de cabeça para UE

Oficialmente, Belarus é a última ditadura da Europa. Mas na realidade, bem no coração do continente, um país pertencente à União Europeia vem adotando medidas de fazer inveja a muitos regimes totalitários e que contrariam todos os princípios defendidos pelo bloco. É a Hungria, que deu uma guinada à extrema-direita sob o comando do primeiro-ministro Viktor Orban.



Apontado como “herói” da libertação do país frente à influência soviética, o premiê é do partido Fidesz, representante da direita conservadora e que detém nada menos que dois terços do Parlamento nacional. Orban ainda é vice-presidente do PPE, uma espécie de clube dos partidos conservadores europeus.

Um fato serve para ilustrar bem a situação: no primeiro dia do ano entrou em vigor uma nova Constituição que acabou com a independência do Judiciário, da Suprema Corte e do Banco Central do país. O atual governo ainda criou mecanismos de censura à imprensa, aumentando a lista de medidas que vem deixando a comunidade internacional cada vez mais preocupada com os rumos do país.

Como se não bastasse o grande poder acumulado pelo Fidesz, existe ainda um partido ainda mais extremista, o Jobbik, que obteve significativos 15% dos votos na última eleição. O grupo criou uma milícia paramiliar chamada Guarda Húngara, que usa uniforme inspirado nos fascistas da década de 1940 e é suspeito de perseguir e matar ciganos no país.



Para piorar, a Hungria é mais um país da União Europeia sob grave crise econômica. Com dívidas de 20 bilhões de euros a serem pagas em 2012, o próprio premiê Orban admite que o país pode quebrar se não receber ajuda do bloco e do FMI, mas se nega a negociar condições para o resgate.

A crise torna o ambiente ainda mais propício para a disseminação de ideias xenófobas. E uma das sanções estudadas pela UE contra Budapeste, a de cortar subsídios enviados mensalmente pela entidade ao país para forçar o governo a voltar atrás nas medidas autoritárias, pode ter exatamente o efeito inverso do esperado por Bruxelas.

Crédito da fotos: Wikimedia Commons

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bulgária e Romênia, "primos pobres" da UE

Mais novos integrantes da União Europeia, Bulgária e Romênia completaram cinco anos de adesão no último dia 1° de janeiro. Mas pouca coisa mudou para ambos nesse período. Pelo contrário, ainda são considerados os “primos pobres” da UE.

No Parlamento Europeu ainda há membros que classificam Bulgária e Romênia como Estados que ainda não estavam maduros para ingresso na UE.

A Bulgária ocupa a lanterna entre os 27 membros do bloco, tanto em riqueza, salários, aposentadorias, produtividade no trabalho e eficiência energética. O país ainda é criticado por Bruxelas em temas como reforma judicial e combate à corrupção e ao crime organizado. A situação também não é das mais alentadoras na Romênia, que tem problemas semelhantes ao país vizinho (desemprego, baixos salários e problemas no setor previdenciário, por exemplo). A ela se soma um certo sentimento de nostalgia dos tempos do comunismo sob o ditador Nicolae Ceauscescu.

A desconfiança gera problemas para os dois caçulas do bloco. Acusada por Bruxelas de não fazer o suficiente contra a corrupção, a Bulgária teve bloqueado em 2008 um repasse de 220 milhões de euros a que teria direito como membro da UE. A Romênia está impossibilitada até 2013 de acessar nada menos que 19 bilhões de euros em fundos do bloco. Para completar, ambos tiveram a entrada barrada no Acordo de Schengen, pacto europeu que permite viagens de cidadãos sem passaportes entre os países do bloco – um grande choque para quem esperava com a adesão à UE uma integração imediata com o restante do continente.

Os dois vizinhos, no entanto, adotam posições distintas frente às objeções vindas de Bruxelas. Enquanto os búlgaros se julgam vistos como membros de segunda classe no bloco e fazem barulho contra as restrições que sofrem, a Romênia evita críticas à entidade e culpa a própria situação do país como motivo da desconfiança. Mas as sociedades em ambos os países têm em comum um sentimento de decepção com a situação atual dos países em relação ao que sonharam no começo de 2007, mesmo sabendo que nada muda da noite para o dia.

Bulgária e Romênia podem servir como alerta para a Croácia, que tem ingresso na UE programado para 2013. Mesmo com o bloco atravessando uma crise que chega a colocá-lo em xeque, a adesão realmente pode abrir portas para o país. Mas a cobrança e a pressão dentro do bloco por resultados econômicos e avanços na política e no judiciário são grandes.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um novo bloco soviético?

Rússia, Belarus e Cazaquistão, antigos e fiéis parceiros desde os tempos de União Soviética, vão estreitar ainda mais os laços econômicos já existentes por meio da Comissão Econômica Euroasiática, assinada no último dia 18 de novembro e que começou a existir formalmente a partir de 1° de janeiro de 2012.

O trio, que já tinha firmado acordo de união aduaneira no ano passado, dá início assim a uma futura União Econômica Euroasiática, com criação oficial já prevista para 2015. Quirguistão e Tadjiquistão, também ex-repúblicas soviéticas, já negociam ingresso no grupo.

Os líderes dos três países fazem questão de frisar que o novo bloco não significa um retorno ao passado soviético, mas sim uma maneira de fortalecer os laços históricos e econômicos entre cada um deles.

Belarus e Cazaquistão estão entre os aliados mais fiéis de Moscou. Os dois países são governados por regimes autoritários – o primeiro, com Aleksandr Lukashenko como presidente desde 1994, é considerada a última ditadura da Europa; já Nursultan Nazarabayev, no Cazaquistão, chegou ao poder em 1989, quando o país ainda era parte da União Soviética.

O grupo é uma amostra de como as ex-nações soviéticas, além dos fortes laços culturais, ainda são dependentes de Moscou. O Cazaquistão, por exemplo, foi a última das repúblicas a declarar independência da URSS – em 16 de dezembro de 1991 apenas nove dias antes da data oficial de extinção da antiga superpotência – e faz 70% de suas exportações de petróleo pelo território russo; Belarus, dependente da Rússia tanto para importar matéria-prima como para exportações, já chegou a discutir a adoção de uma moeda única com o gigante parceiro comercial e diplomático, mas o processo não foi adiante. O novo bloco, no entanto, pode não apenas destravar essa ideia como também estender essa política a outras ex-repúblicas no futuro.

A ideia de adesão, no entanto, deve passar bem longe das pretensões de países como a Geórgia e a Ucrânia – que vivem às turras com Moscou e tentam se aproximar mais da Europa Ocidental – e de Letônia, Estônia e Lituânia, Estados-membros da UE desde 2004.

A criação do bloco pode ser encarada também como uma reação do Kremlin ao crescimento da influência econômica da China sobre as ex-nações soviéticas da Ásia, ricas em gás e petróleo e alvo de grandes investimentos de Pequim. As relações com os russos, no entanto, seguem sem maiores atritos – empresas dos dois países são parceiras em projetos na região, por exemplo.

A futura União Econômica Euroasiática pode não ser um novo bloco soviético, mas mostra um posicionamento claro da Rússia em se consolidar como líder regional e tentar preservar a influência sobre os antigos países-membros, se colocando como alternativa tanto econômica como diplomática. Mas também revela que parte da nostalgia da URSS ainda sobrevive – especialmente pelos lados do Kremlin.