quarta-feira, 9 de maio de 2012

Migrante também gera polêmica na Rússia


O leste europeu em geral é associado como fornecedor de emigrantes para outras partes da Europa e do mundo. Mas uma pesquisa global sobre imigração feita pelo Instituto Ipsos mostrou um lado diferente do tema, com dilemas semelhantes aos que ocorrem em regiões com fama internacional de atrair estrangeiros.

O destaque vai para a Rússia, apontada como o segundo país no mundo com mais imigrantes vivendo em seu território, atrás apenas dos EUA. São cerca de 12 milhões de estrangeiros, que representam em torno de 8% da população. E em quarto na lista, logo atrás da Alemanha, aparece a Ucrânia, com 4,6 milhões de estrangeiros na ex-república soviética.

É certo que, dentre tais estrangeiros em território russo e ucraniano, muitos são de países que fizeram parte da URSS – incluindo ucranianos na Rússia e russos vivendo na Ucrânia.

Outro dado curioso apontado pela pesquisa é que, ao mesmo em tempo que a Rússia ocupa a vice-liderança em número de imigrantes no seu território, a sociedade russa é uma das menos tolerantes a estrangeiros – rejeição de 69%, atrás apenas de belgas e sul-africanos na lista global.  O número de imigrantes existente no país ainda é considerado “excessivo” por 77% dos russos entrevistados.

Aqui entra mais uma vez a herança soviética, com os ressentimentos étnicos e históricos ainda existentes entre os povos que formavam a antiga URSS. Mas esses fatores também são combinados com um fenômeno já bem comum na Europa Ocidental e que infelizmente ganha espaço na Rússia. Trata-se da xenofobia em relação à população islâmica, religião professada por cerca de 20 milhões de fiéis no país e majoritária em muitas ex-repúblicas soviéticas.

Uma prova desse sentimento de islamofobia na Rússia foi a oposição à construção de mesquitas na capital, Moscou, já abordada neste blog.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Livro conta parte da imigração do leste para o Brasil

A história da imigração de povos do centro e leste da Europa para o Brasil ainda é pouco conhecida, se comparada com outras comunidades (espanhola, italiana, japonesa, portuguesa, sírio-libanesa, entre outras). Apesar disso, não faltam publicações a respeito do tema. E uma delas é o livro “Imigração e Revolução”, lançado em 2010 pela Edusp.

A obra é fundamentada em arquivos do Deops-SP, a antiga polícia política paulista, e analisa a vigilância da entidade sobre lituanos, poloneses e russos que chegaram ao Estado entre 1924 e 1954. A obra permite o resgate da memória dessas imigrantes no Brasil sob o viés da repressão e da resistência política.



E a vigilância das autoridades paulistas sobre tais imigrantes e suas organizações era cerrada. Os agentes elaboravam dossiês detalhados com todos os passos de cada pessoa ou organização suspeita de “subverter a ordem social”. A entidade também se aproveitava de cisões internas nas comunidades e cooptava informantes para colaborar nas investigações. A proibição de falar o idioma de origem em público, o fechamento de escolas e de associações culturais, o confisco de documentos pessoais, a prisão e o ato de expulsão de estrangeiros serviam como medidas para inibir as proposta ditas “revolucionárias” e garantir o controle social.

Outro grande problema que esses imigrantes enfrentavam era o rótulo de “russos”, “comunistas” e “subversivos” que recebiam das autoridades brasileiras, independente do país do qual eram originários. “Os próprios russos que chegaram aqui na década de 1920, por exemplo, buscavam refúgio da revolução bolchevique. Já os poloneses em São Paulo tinham organizações com distintas perspectivas políticas, do nacionalismo ao comunismo, assim como os lituanos”, explica o historiador Erick Zen, autor do livro.

Apesar de terem uma trajetória menos conhecida, Zen não crê tais comunidades sejam subestimadas nos estudos sobre imigração. “Talvez o que falte seja uma divulgação destas pesquisas, e isso vale para todos os temas e áreas. Não é muito fácil fazer uma pesquisa “sair” da academia. Por outro lado, é preciso considerar que muitos trabalhos não vão a fundo às questões e organizações políticas e isso creio que falta mesmo para os grupos maiores”, pondera.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Abrigo ajuda vítimas de violência doméstica

"Construa uma casa segura. Violência doméstica é crime. Vamos ajudar as vítimas". Com essas palavras (em tradução livre do sérvio), um projeto busca fundos para prestar auxílio a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica, problema crônico da sociedade sérvia.



Trata-se da Sigurna kuća (Safe House, em inglês), que começou como uma campanha lançada em 2006 pela RTV B92, um dos maiores grupos de comunicação dos Bálcãs.  A meta inicial era arrecadar fundos para já no ano seguinte iniciar a construção de um abrigo na capital, Belgrado, para vítimas de violência doméstica.

Mesmo com a situação econômica adversa nos últimos anos, a iniciativa se expandiu e já soma 24 unidades espalhadas pela Sérvia. A mais recente delas foi inaugurada em fevereiro deste ano em Sombor, norte do país, em um antigo complexo hoteleiro.

 "Acabar com a violência contra a mulher e as crianças" – tradução livre do sérvio

As unidades que integram a rede são independentes entre si e são gerenciadas por ONGs ou centros de bem estar social, com apoio dos governos locais. Dentre os trabalhos desenvolvidos pela Sigurna kuća estão alojamento e alimentação às vítimas, assistência emocional e jurídica e capacitação profissional.

Apesar da grandeza da iniciativa, a tarefa diante da organização é digna de Hércules. A pesquisa mais recente sobre o tema é de 2006, mas traz números alarmantes: nada menos que 82,7% das mulheres sérvias já sofreram algum tipo de violência – seja ela física, psicológica ou mesmo social. 

E mesmo sendo tão grave, o crescimento da atenção dada ao problema é um fenômeno relativamente recente. A primeira lei criminal sérvia que tratava – e reconhecia a existência – da violência contra a mulher data de 2002.

As raízes para tal problema estão na própria sociedade sérvia. A tradição patriarcal, muito comum em países do Leste, aliada à forte crise econômica e às guerras que afetaram durante a sociedade nos anos 1990, deixam o terreno propício para práticas de submissão feminina.

Apesar de parabenizada por avanços sociais, políticos e econômicos, a Sérvia terá pela frente uma série de outros pré-requisitos a preencher como candidata oficial a ingressar na União Europeia. E um deles vem bem a calhar para o dia de hoje, dedicado às mulheres de todo o mundo: o combate sistemático à violência contra o sexo feminino, dentro e fora do lar. E para isso são necessárias muitas outras iniciativas para se somarem à rede Sigurna kuća. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Com "voto carrossel", Putin vence na Rússia

Com as palavras "Vencemos! Ganhamos uma luta aberta e limpa", Vladimir Putin comemorou a vitória nas eleições presidenciais da Rússia antes mesmo do fim da apuração. Para a oposição, no entanto, sobram sujeiras e aspectos podres no triunfo do atual premiê, eleito para um terceiro mandato. Mas o futuro do ex-espião novamente à frente do Kremlin promete não ser dos mais fácies.

Os resultados oficiais apontam quem Putin recebeu cerca de 64% dos votos no pleito. O atual premiê saúda a eleição como "limpa", mas a oposição denuncia existência de fraudes, comuns no precário sistema de votação russo. Também há a pressão internacional, em especial da União Europeia, que pede explicações sobre as denúncias de ilegalidades.

A principal e mais comum delas é o chamado "voto carrossel", no qual uma mesma pessoa vota várias vezes em diferentes sessões – os russos não são obrigados a votar na sessão na qual estão cadastrados. Como o sistema não é informatizado, é difícil controlar a prática. Oposicionistas citam que o "voto carrossel" nesta eleição foi muito maior que na última eleição legislativa, ocorrida em dezembro passado.

Mas Putin, apesar da suposta larga margem sobre a concorrência, terá problemas pela frente. Um deles está na própria capital, Moscou, onde alcançou apenas um terço dos votos obtidos por Medvedev na eleição presidencial anterior. É lá também que acontecem os maiores protestos contra o atual governo, pedindo maior liberdade de imprensa, democracia, entre outras reivindicações. Especialistas citam tais manifestações como um “despertar” da sociedade civil russa, após cerca de uma década de dormência.

Mesmo com as denúncias de fraude, Vladimir Putin foi eleito para um terceiro mandato na presidência da Rússia, como já era previsto por pesquisas de opinião. Incluindo o atual período como primeiro-ministro do governo Medvedev , de quem é mentor e padrinho político, o ex-espião da KGB pode completar ao todo 24 anos no poder. Agora se ele de fato vai conseguir já é uma outra história. E a sociedade russa cada vez mais dá sinais de que não está disposta a aceitar uma espécie de neoczar como Putin no poder.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Enfim, Sérvia dá um passo em direção à UE

A última cúpula da União Europeia, iniciada hoje, mostrou uma panorama de como andam as negociações para ingresso de novos países no bloco. O destaque da vez coube à Sérvia que, enfim, conseguiu o status de candidata formal a entrar na UE.

As negociações se arrastavam desde 2009 e ainda contaram com acordos de última hora com o Kosovo e a Romênia, que exigia de Belgrado o reconhecimento de direitos aos valáquios – falantes de língua romena – que vivem na Sérvia.  

Mas se o caminho para tal foi longo e tortuoso, os próximos passos prometem ser tão difícies quanto os anteriores. Obstáculos e questões pendentes dentro e fora do país continuam no caminho da Sérvia. O Kosovo continua entre eles, já que o acordo mais recente entre Belgrado e Pristina não significou o reconhecimento da independência da antiga província, mas a permissão de que o Kosovo possa firmar tratados internacionais de forma autônoma.

O nome Kosovo, no entanto, deverá ser seguido de uma observação sobre a declaração de independência unilateral e que ainda não goza de pleno reconhecimento internacional. E a Sérvia ainda exigiu a lembrança da resolução do Conselho de Segurança da ONU, de 1999, que reconheceu o Kosovo como parte da Sérvia.

Um outro grande obstáculo está dentro do próprio país, o ceticismo de parte da sociedade em relação à UE. Pesquisas de opinião recentes mostram que quase metade da população votaria contra o ingresso no bloco europeu. O principal representante político dessa posição é o Partido Democrático da Sérvia, liderado pelo ex-premiê Vojislav Kostunica, cujo slogan é “A Europa nos prejudica”.

Mas depois de anos sendo considerado praticante uma “ovelha negra” da Europa, é notável tanto o esforço dos últimos governos sérvios em tentar colocar o país em contato com a UE quanto à decisão dos países do bloco de conceder à ex-república iugoslava o status de candidata ao bloco. Apesar da crise econômica que tanto Belgrado como Bruxelas enfrentam, a sensação é de que a tarefa será menos árdua se ambos a enfrentarem juntos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Dresden e o trauma nazista da Alemanha

A cidade de Dresden, ao leste da Alemanha, foi reduzida a ruínas em 13 de fevereiro de 1945, já nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial e da Alemanha hitlerista. Desde o ano seguinte, os sinos das igrejas da cidade soam em memória do ocorrido, que matou cerca de 20 mil pessoas. Mas a exemplo do que acontece com o Dia da Honra de Budapeste, relatado no post anterior, grupos de extrema-direita e neonazistas se aproveitam da data e aproveitam para fazer manifestações políticas e negar a culpa alemã pelo Holocausto.

O evento, chamado de "Marcha do Luto", começou em 1998 e chegou a reunir cerca de 6.500 simpatizantes nos últimos anos. Mas, ao contrário do que acontece na capital húngara, a população de Dresden tem se posicionado contra a manifestação. Na edição de 2011, por exemplo, 15 mil pessoas pertencentes à aliança "Dresden sem nazistas" formaram uma corrente humana para barrar o ato. 

A questão, na verdade, é mais complexa do que parece. De um lado, os simpatizantes da "Marcha do Luto" invocam o princípio da liberdade de expressão como argumento para permitir a manifestação – considerada legal pelo governo da Saxônia, região da qual Dresden é a capital. Do outro, o trauma que o nazismo causou e o receio de qual tal fantasma volte a assombrar a Alemanha impulsionam os contrários ao ato.

Em todo o país discute-se a proibição do NPD, partido de extrema direita e considerado simpatizante do neonazismo. Mas a legenda conserva apoio considerável, em especial na antiga Alemanha Oriental (onde fica Dresden), onde tem representantes em duas assembleias legislativas estaduais.

A atual crise europeia pode ser decisiva no aumento ou não do apoio à extrema direita. Apesar de a Alemanha ter se mantido a salvo até agora e de até mesmo ditar a política econômica do continente, o medo de que uma onda de imigrantes vindos de outras partes da UE possa "roubar os empregos" ou "se aproveitar da prosperidade alemã" deve ser visto como um argumento possível para a extrema direita – e aceitável para os mais xenófobos. Apesar da maior integração dos imigrantes na sociedade e do momento  defensivo que grupos neonazistas vivem, todo o cuidado com essa ideologia ou de alguma que derive dela é pouco.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dia da Honra, ultradireita e nazismo

O tempo na Europa é de crise, terreno fértil para disseminação de idéias conservadoras. Com um discurso de apelo à segurança e à defesa dos ideais nacionais, grupos de direita e extrema-direita ganham importante espaço no cenário político, seja a leste ou oeste do continente. E esse contexto ajuda a trazer ainda mais dimensão a certas manifestações dessas entidades.



Um bom exemplo é o chamado "Dia da Honra" (Becsület Napja, em húngaro), celebrado todo dia 11 de fevereiro em Budapeste, Hungria – que já teve sua guinada à direita abordada neste blog. A data lembra a queda da cidade frente ao sítio imposto pelo Exército Vermelho soviético, que durou de 29 de dezembro de 1944 a 13 de fevereiro de 1945, data oficial da rendição da capital húngara. O clipe abaixo, da banda de Black metal húngara Heldentod, traz algumas imagens dessa batalha, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. Os acordes lembram a música Fear of the Dark, do Iron Maiden.



Os defensores de Budapeste– e homenageados no "Dia da Honra" – são as forças locais húngaras e a SS, tropa de elite da Alemanha nazista, que tinha a Hungria como aliada. Esse componente torna o Dia da Honra um evento para toda a extrema-direita europeia, reunindo grupos da Alemanha, Eslováquia, Bulgária e Sérvia. O vídeo abaixo, da edição do ano passado, dá uma dimensão do tamanho que o "Becsület Napja" (Dia da Honra, em húngaro) alcançou por lá, além de mais imagens da Budapeste em ruínas após o cerco.



Na página oficial do "Becsület Napja", uma mudança no evento em relação a anos anteriores: a troca de paradas grandiosas por atos menores em diversas regiões da cidade e o  incentivo a atos dentro das próprias casas húngaras. Confrontado com a crise econômica no país, tal alteração é bastante oportuna para os organizadores e serve como uma vitrine a mais, ao demonstrar conscientização sobre a atualidade húngara. Este outro vídeo abaixo é de um desses pequenos atos programados para o Dia da Honra de 2012.



Além da Hungria, outros países do leste europeu sediam ou se preparam para criar atos de glorificação à extrema-direita, como Estônia, Ucrânia. Uma reportagem do jornal La Vanguardia, que pode ser lida em português no portal Opera Mundi, aponta para um flerte da Europa Oriental com o nazismo e dá uma dimensão maior sobre esses eventos.

A guinada à direita e a falta de governos com valores democráticos não são uma novidade no Leste Europeu. No período Entreguerras (1919-1939), quando a região emergiu da queda dos impérios alemão, austro-húngaro, russo e otomano, regimes fortes dominaram praticamente toda a porção oriental do continente – com exceção da então Tchecoslováquia. Na Segunda Guerra Mundial a Alemanha de Hitler contou com apoio militar de nações como Romênia, Bulgária, Hungria, Eslováquia e Croácia (estas duas últimas surgidas temporariamente como Estados fantoches do Reich nazista), além de ter usado a seu favor os ressentimentos anti-URSS alimentados por nações como Ucrânia, Polônia, Belarus e Lituânia. Após a Segunda Guerra a região ficou sob a esfera de influência soviética e com governos quase sempre simpáticos e submissos a Moscou.

Somente com a queda da URSS que regimes com princípios democráticos surgiram no Leste. No entanto, adeptos da direita e extrema-direita, aproveitando-se do sentimento anti-URSS disseminado nos antigos satélites do Kremlin e do argumento de defesa dos valores nacionais, conseguiram sobreviver no cenário político e encontraram terreno fértil para crescerem com a atual crise europeia.

Estaria o Leste voltando ao mesmo patamar da década de 1930? Cravar essa possibilidade como algo concreto pode ser leviano. Mas o crescimento da extrema-direita no cenário político de cada país e na Europa deve ser acompanhado com muito cuidado pela comunidade internacional. O atual contexto é diferente daquela época e hoje não existe – pelo menos ainda – uma figura central como a de Hitler. Mas os efeitos que a escalada de totalitarismo e ódio causou no continente e mundo afora são bem conhecidos. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Croácia aprova UE, mas abstenção preocupa

Em referendo, a Croácia aprovou o ingresso do país na União Europeia, já agendado para 1° de julho de 2013. Dos que compareceram à consulta, 66,24% votaram a favor da adesão e 33,16% se posicionaram contra. Mas se o governo celebra o aval dado pelas urnas, o mesmo entusiasmo não pode ser atribuído à população.

Isso porque, apesar da larga margem do sim sobre o não à entrada na UE, apenas 43.6% dos aptos a votar compareceram à convocação. Apesar de o ingresso na União Europeia ser defendido pelos principais partidos do país, a crise que o bloco e o euro enfrentam são usados como argumentos pelos opositores da adesão.

A situação atual da Grécia e os resultados ainda tímidos que Bulgária e Romênia, ambos na UE desde 2007, alcançaram desde então, ajudam a reforçar as objeções à adesão. Os contrários afirmam ainda apelam para outros argumentos, com forte conotação nacionalista, de que o país perderia soberania e colocaria em risco a identidade nacional.

Já os defensores dizem que a UE é vital para consolidar a paz e a recuperação econômica do país após a guerra de independência, encerrada em 1995. No entanto, a previsão é de que o PIB croata encolha 0,2% neste ano, o que aumenta a expectativa sobre os benefícios – ou frustrações – que a adesão pode trazer. Além do aval interno, a Croácia ainda precisa ter seu ingresso na UE aprovado pelos demais 27 membros. Entre eles, a Eslovênia, até agora a única ex-república iugoslava no bloco e que possui entraves fronteiriços a serem resolvidos com o governo de Zagreb. O fator “UE” pode ser usado por Ljubljana para forçar uma solução definitiva para o impasse, mas nada que seja suficiente para vetar o futuro novo membro.

A entrada da Croácia também pode ser vista como um alento às demais ex-repúblicas iugoslavas, como Sérvia e Bósnia, que também sonham em fazer parte dele. Mas a julgar pela duração total das negociações entre Bruxelas e Zagreb, iniciadas em 2005 e concluídas apenas recentemente, os demais aspirantes a candidatos à UE ainda têm um longo caminho pela frente. Para eles, ruim com a União Europeia em decadência, pior ainda sem ela.

sábado, 14 de janeiro de 2012

De surpresa em 1994, futebol da Bulgária definha

Uma votação na internet sobre o melhor jogador do futebol búlgaro em 2011 teve um fato inusitado. Na primeira fase da eleição, aberta ao público, a liderança coube a Boyko Borisov, 52, atual premiê do país e que atua em jogos esporádicos pelo Vitosha Bistritsa, clube da terceira divisão local. Em segundo aparecia o atacante Dmitar Berbatov, de fato este um nome importante do atual futebol búlgaro, atualmente reserva no Manchester United. E o terceiro colocado também era um personagem inusitado: Vasil Lukaev, jogador do Shipka Dragor, time amador do país.

Quando a votação foi fechada ao público e passou a ser feita somente entre os jornalistas, a “ordem” foi restabelecida. Nikolay Mikhailov, goleiro do Twente (Holanda) eleito o melhor jogador búlgaro de 2011 e com o primeiro-ministro bem longe das primeiras posições. Mas a brincadeira já estava feita e serve para ilustrar bem a situação do futebol no país.  Mas nem sempre foi assim.

Liderada pelo atacante Hristo Stoichkov (então uma das estrelas do Barcelona, ao lado de Romário e outros), a seleção nacional foi um das surpresas na Copa do Mundo de 1994, quando conquistou o quarto lugar após passar por times mais rodados, como o México e a então atual campeã Alemanha. Ainda no ano anterior, a Bulgária havia se classificado para o Mundial com uma vitória dramática fora de casa sobre a França.



Mas desde então, o futebol nacional vem definhando. A última grande competição da Bulgária foi a Eurocopa de 2004, em Portugal. Em Mundiais, a última aparição foi em 1998, quando não foi além da primeira fase. Atualmente o país disputa apenas as eliminatórias para o torneio continental e para a Copa, sempre com campanhas fracas.

Entre os clubes a situação é a mesma. Nas competições europeias, os times búlgaros em geral são eliminados ainda nas rodadas preliminares e, quando avançam, ficam pela fase de grupos. E além do momento ruim em campo e da falta de talentos, o futebol búlgaro é repleto de denúncias de corrupção e manipulação de resultados.

O premiê “homenageado” pela brincadeira na internet, aliás, divulgou uma carta na qual criticava a votação, pedia a anulação da mesma e a adoção de reformas para tirar a modalidade da má fase atual.

O atual presidente da Federação Búlgara de futebol é Borislav Mihailov, goleiro da seleção na Copa de 1994 e pai eleito melhor jogador do país. Nem sempre aqueles que brilharam nos gramados conseguem fazer bonito quando passam para cargos de direção, mas não deixa de ser um alento para o futebol búlgaro sonhar com dias melhores. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ex-Iugoslávia ressurge com o cinema

Em 2011 um longa intitulado A Serbian Movie deixou platéias estarrecidas com cenas para lá de fortes. A produção chegou a ser vetada em diversas mostras mundo afora – inclusive nas que ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas apesar do gosto polêmico – ou mesmo duvidoso – deste filme, a região dos Bálcãs vive um momento especial no cinema, o melhor desde o fim da antiga Iugoslávia.

É o que mostra uma reportagem publicada recentemente pelo jornal Herald Tribune (assinantes do portal UOL podem ler o texto em português neste link). A produção cinematográfica dos Bálcãs, que até o final da década passada era concentrada em assuntos ligados às guerras que assolaram a região nos anos 1990, vem ganhando temas mais diversificados. Filmes como “A Viagem” (Eslovênia), “Josef” (Croácia), “A Fita de Casamento” (Kosovo) e documentários como “A Longa Estrada pela História dos Bálcãs” e “Oktober” (ambos da Sérvia), foram elogiados pela crítica em festivais dentro e fora dos países da ex-Iugoslávia.

Além da boa safra de cineastas locais, a atual estabilidade geopolítica – o último conflito armado foi em 1999 – ajuda a atrair produções estrangeiras para a região. “In the Land of Blood and Honey”, de Angelina Jolie, está entre elas, com locações na Bósnia; entre outros exemplos podem ser apontados “O Corvo”, de Edgar Allan Poe e estrelado por John Cusack, e o filme “Coriolanus”, com Ralph Fiennes, ambos parcialmente rodados na Sérvia.

Ex-repúblicas se ajudam

A década de guerras também prejudicou seriamente a indústria cinematográfica local, que ainda carece de recursos técnicos e financeiros. Mas a forma encontrada para driblar esses obstáculos é um dos pontos de destaque nessa nova fase do cinema da região: a cooperação entre as antigas repúblicas iugoslavas. Por exemplo: um filme sérvio pode contar com recursos financeiros e equipamento vindos ao mesmo tempo da Bósnia, Croácia e Eslovênia. Tais produções são conhecidas como “domace”, termo sevo-croata que significa “feito em casa”.

Trata-se de um belo avanço em uma região que até hoje tem rusgas étnicas agravadas pelas guerras e que ainda custam a cicatrizar por completo – e que ganha ainda mais significado com o emprego do termo “domace”. E ainda, junto com a maior procura dos estrangeiros por locações para filmagens, ajuda a devolver à ex-Iugoslávia pelo menos parte da importância cinematográfica que desenvolveu desde a década de 1920 e que teve seu auge entre os anos 50 e 80 do século passado.

Dizer que o cinema pode ser um agente de reconciliação dentro da antiga Iugoslávia pode ser precipitado neste momento. Mas se na área cultural já é possível encontrar casos de superação desse passado doloroso, aumenta a esperança de que o mesmo possa acontecer em outros setores da política e da sociedade locais.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Hungria, nova dor de cabeça para UE

Oficialmente, Belarus é a última ditadura da Europa. Mas na realidade, bem no coração do continente, um país pertencente à União Europeia vem adotando medidas de fazer inveja a muitos regimes totalitários e que contrariam todos os princípios defendidos pelo bloco. É a Hungria, que deu uma guinada à extrema-direita sob o comando do primeiro-ministro Viktor Orban.



Apontado como “herói” da libertação do país frente à influência soviética, o premiê é do partido Fidesz, representante da direita conservadora e que detém nada menos que dois terços do Parlamento nacional. Orban ainda é vice-presidente do PPE, uma espécie de clube dos partidos conservadores europeus.

Um fato serve para ilustrar bem a situação: no primeiro dia do ano entrou em vigor uma nova Constituição que acabou com a independência do Judiciário, da Suprema Corte e do Banco Central do país. O atual governo ainda criou mecanismos de censura à imprensa, aumentando a lista de medidas que vem deixando a comunidade internacional cada vez mais preocupada com os rumos do país.

Como se não bastasse o grande poder acumulado pelo Fidesz, existe ainda um partido ainda mais extremista, o Jobbik, que obteve significativos 15% dos votos na última eleição. O grupo criou uma milícia paramiliar chamada Guarda Húngara, que usa uniforme inspirado nos fascistas da década de 1940 e é suspeito de perseguir e matar ciganos no país.



Para piorar, a Hungria é mais um país da União Europeia sob grave crise econômica. Com dívidas de 20 bilhões de euros a serem pagas em 2012, o próprio premiê Orban admite que o país pode quebrar se não receber ajuda do bloco e do FMI, mas se nega a negociar condições para o resgate.

A crise torna o ambiente ainda mais propício para a disseminação de ideias xenófobas. E uma das sanções estudadas pela UE contra Budapeste, a de cortar subsídios enviados mensalmente pela entidade ao país para forçar o governo a voltar atrás nas medidas autoritárias, pode ter exatamente o efeito inverso do esperado por Bruxelas.

Crédito da fotos: Wikimedia Commons

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bulgária e Romênia, "primos pobres" da UE

Mais novos integrantes da União Europeia, Bulgária e Romênia completaram cinco anos de adesão no último dia 1° de janeiro. Mas pouca coisa mudou para ambos nesse período. Pelo contrário, ainda são considerados os “primos pobres” da UE.

No Parlamento Europeu ainda há membros que classificam Bulgária e Romênia como Estados que ainda não estavam maduros para ingresso na UE.

A Bulgária ocupa a lanterna entre os 27 membros do bloco, tanto em riqueza, salários, aposentadorias, produtividade no trabalho e eficiência energética. O país ainda é criticado por Bruxelas em temas como reforma judicial e combate à corrupção e ao crime organizado. A situação também não é das mais alentadoras na Romênia, que tem problemas semelhantes ao país vizinho (desemprego, baixos salários e problemas no setor previdenciário, por exemplo). A ela se soma um certo sentimento de nostalgia dos tempos do comunismo sob o ditador Nicolae Ceauscescu.

A desconfiança gera problemas para os dois caçulas do bloco. Acusada por Bruxelas de não fazer o suficiente contra a corrupção, a Bulgária teve bloqueado em 2008 um repasse de 220 milhões de euros a que teria direito como membro da UE. A Romênia está impossibilitada até 2013 de acessar nada menos que 19 bilhões de euros em fundos do bloco. Para completar, ambos tiveram a entrada barrada no Acordo de Schengen, pacto europeu que permite viagens de cidadãos sem passaportes entre os países do bloco – um grande choque para quem esperava com a adesão à UE uma integração imediata com o restante do continente.

Os dois vizinhos, no entanto, adotam posições distintas frente às objeções vindas de Bruxelas. Enquanto os búlgaros se julgam vistos como membros de segunda classe no bloco e fazem barulho contra as restrições que sofrem, a Romênia evita críticas à entidade e culpa a própria situação do país como motivo da desconfiança. Mas as sociedades em ambos os países têm em comum um sentimento de decepção com a situação atual dos países em relação ao que sonharam no começo de 2007, mesmo sabendo que nada muda da noite para o dia.

Bulgária e Romênia podem servir como alerta para a Croácia, que tem ingresso na UE programado para 2013. Mesmo com o bloco atravessando uma crise que chega a colocá-lo em xeque, a adesão realmente pode abrir portas para o país. Mas a cobrança e a pressão dentro do bloco por resultados econômicos e avanços na política e no judiciário são grandes.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um novo bloco soviético?

Rússia, Belarus e Cazaquistão, antigos e fiéis parceiros desde os tempos de União Soviética, vão estreitar ainda mais os laços econômicos já existentes por meio da Comissão Econômica Euroasiática, assinada no último dia 18 de novembro e que começou a existir formalmente a partir de 1° de janeiro de 2012.

O trio, que já tinha firmado acordo de união aduaneira no ano passado, dá início assim a uma futura União Econômica Euroasiática, com criação oficial já prevista para 2015. Quirguistão e Tadjiquistão, também ex-repúblicas soviéticas, já negociam ingresso no grupo.

Os líderes dos três países fazem questão de frisar que o novo bloco não significa um retorno ao passado soviético, mas sim uma maneira de fortalecer os laços históricos e econômicos entre cada um deles.

Belarus e Cazaquistão estão entre os aliados mais fiéis de Moscou. Os dois países são governados por regimes autoritários – o primeiro, com Aleksandr Lukashenko como presidente desde 1994, é considerada a última ditadura da Europa; já Nursultan Nazarabayev, no Cazaquistão, chegou ao poder em 1989, quando o país ainda era parte da União Soviética.

O grupo é uma amostra de como as ex-nações soviéticas, além dos fortes laços culturais, ainda são dependentes de Moscou. O Cazaquistão, por exemplo, foi a última das repúblicas a declarar independência da URSS – em 16 de dezembro de 1991 apenas nove dias antes da data oficial de extinção da antiga superpotência – e faz 70% de suas exportações de petróleo pelo território russo; Belarus, dependente da Rússia tanto para importar matéria-prima como para exportações, já chegou a discutir a adoção de uma moeda única com o gigante parceiro comercial e diplomático, mas o processo não foi adiante. O novo bloco, no entanto, pode não apenas destravar essa ideia como também estender essa política a outras ex-repúblicas no futuro.

A ideia de adesão, no entanto, deve passar bem longe das pretensões de países como a Geórgia e a Ucrânia – que vivem às turras com Moscou e tentam se aproximar mais da Europa Ocidental – e de Letônia, Estônia e Lituânia, Estados-membros da UE desde 2004.

A criação do bloco pode ser encarada também como uma reação do Kremlin ao crescimento da influência econômica da China sobre as ex-nações soviéticas da Ásia, ricas em gás e petróleo e alvo de grandes investimentos de Pequim. As relações com os russos, no entanto, seguem sem maiores atritos – empresas dos dois países são parceiras em projetos na região, por exemplo.

A futura União Econômica Euroasiática pode não ser um novo bloco soviético, mas mostra um posicionamento claro da Rússia em se consolidar como líder regional e tentar preservar a influência sobre os antigos países-membros, se colocando como alternativa tanto econômica como diplomática. Mas também revela que parte da nostalgia da URSS ainda sobrevive – especialmente pelos lados do Kremlin.