domingo, 27 de fevereiro de 2011

De topless, movimento feminista sacode a Ucrânia

Uma emissora de rádio da Nova Zelândia dá uma viagem à Ucrânia ao homem vencedor,  para este tentar conhecer uma mulher para casar. Em resposta, ativistas do grupo feminista Femen protestam em Kiev, capital do país, com slogans como "A Ucrânia não é Bordel". Neste link pode ser vista a foto da ação, publicada em portais de informação de todo o mundo.

A promoção da rádio e a reação do Femen são didáticos. Ao mesmo tempo, mostra como a fama de “point” do turismo sexual colou na Ucrânia e também o tamanho do desafio do movimento feminista em mudar essa imagem do país no exterior.


Um dos países mais belos do leste europeu e dono de uma cultura riquíssima, a Ucrânia se consolidou como um destino turístico, com cerca de 20 milhões de visitantes por ano. Mas a atração principal para esse público, o turismo sexual, está longe de trazer orgulho a qualquer lugar do mundo.


Já não bastasse o rótulo de prostitutas que mulheres de países do leste (reconhecidas por sua beleza) carregam na Europa (situação semelhante às de brasileiras no continente), a ex-república soviética também ganhou a fama de ser uma das mecas do sexo pago no mundo, em especial na capital Kiev. O fato de 23% das prostitutas da Europa serem de origem ucraniana reforça o estereótipo.


A crise econômica vivida pelo país agrava o problema, já que muitas jovens enxergam na prostituição uma forma de ganhar muito dinheiro e ascender socialmente. Estima-se que 60% das universitárias ucranianas recorram à indústria do sexo para custearem os estudos.


É dentro desse contexto que estudantes da Universidade de Kiev fundaram em 2008 o Femen, um movimento que adotou um jeito polêmico e irreverente de protestar contra o turismo sexual e lutar pelos direitos das mulheres na Ucrânia e pelo mundo. A forma mais marcante de manifestação e que mais chama a atenção da mídia internacional é o topless.


"Criei este movimento porque compreendi que havia falta de ativistas femininas na nossa sociedade. A Ucrânia é uma sociedade dominada pelos homens e na qual as mulheres têm um papel passivo", diz Anna Hutsol, presidente do Femen.


Para as integrantes do Femen, a prostituição é uma forma de escravidão. Por isso, o grupo também se opõe a qualquer proposta de legalização da atividade no país e propõe a criminalização do ato da compra de sexo. Essa política já é adotada na Suécia e conhecida como “Modelo Nórdico”.


Uma das preocupações futuras do Femen é com 2012, ano no qual cidades da Ucrânia serão sedes da Eurocopa, ao lado da vizinha Polônia. A grande dimensão do evento e seu potencial turístico tendem a agravar o problema da prostituição no país.


As manifestações do Femen em prol dos direitos das mulheres na Ucrânia também incluem campanhas com slogans irreverentes e marcantes. Uma das mais famosas é "A Ucrânia Não é Bordel", que aborda o tema da prostituição. Outra iniciativa de destaque é a campanha "Não Seja uma Vagabunda - Não Venda Seu Voto", que visava a conscientização do público feminino para a última eleição presidencial, ocorrida no ano passado.


O grupo, aliás, também é crítico ferrenho do governo ucraniano, que vem restringindo a liberdade de expressão no país. Protestos em geral são proibidos – sobretudo contra a Rússia, maior aliada da atual gestão – e a mídia ucraniana recebe “recomendações” sobre o que pode e como deve ser veiculado. A foto abaixo é de uma das manifestações do Femen contra esse cerceamento (crédito do próprio site da organização, que está em fase de construção).



Com a consolidação do futuro site, o http://www.femen.org/, a organização pretende intensificar a mobilização promovida nas redes sociais – já engloba locais como o Facebook, My Space, Twitter e Flicrk. Contatos e manifestações de apoio podem ser feitos pelo email femen.ua@gmail.com . Hoje, o Femen conta com cerca de 300 ativistas que participam dos protestos. Mas quando somam o apoio que recebem via internet, a base de ativistas chega a 2.500.


A princípio, o uso do topless como forma de manifestação pode parecer equivocada, sob risco de reforçar os estereótipos já existentes. Mas as integrantes pensam de forma bem diferente: “Nós começamos vestidas e ninguém reparava. Eu sou uma grande fã de tirarmos nossas roupas. É como conseguimos atenção da nossa plateia”, diz a militante e estudante de Economia Alexandra Shevchenko. “É tudo o que temos, nosso corpo. Nós não temos vergonha disso”, diz a estudante de jornalismo Inna.


A atuação do Femen, no entanto, extrapola a proposta principal do movimento. Ao agregar a luta por liberdade de expressão às manifestações por melhores condições de vida para as mulheres, o grupo se consolida como um dos poucos na Ucrânia a se organizar e se atrever a bater de frente contra o governo. E tudo isso, gostem ou não, com uma forma no mínimo criativa e chamativa de protestar.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um lado quase desconhecido do Holocausto

Auschwitz foi o único palco do Holocausto? Foi o principal, o mais conhecido, mas a matança de judeus durante a Segunda Guerra Mundial não ficou restrita aos campos de concentração e extermínio – como se isso já fosse “pouco”.


Antes do uso das câmaras de gás já haviam milhares de mortos na conta dos nazistas espalhados pelo Leste europeu, especialmente em Belarus, Ucrânia, Polônia e Rússia. O destino desses corpos eram valas comuns no meio de florestas e arredores de povoados remotos. E a grande maioria desses locais continua esquecida, como relata matéria do portal Deutsche Welle.

Uma organização francesa chamada Yahad in Unum, fundada por sacerdotes católicos e ligada à Universidade de Sorbonne, está se dedicando à procura dessas valas comuns. Outro objetivo da entidade é transformar os locais em memoriais às vitimas e evitar que o esquecimento e a ação do tempo destruam essa parte ainda pouco conhecida da história da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto.


A tarefa é digna de Hércules. As valas são localizadas por meio de investigações junto aos moradores dos locais, que são entrevistados pela organização.

Como se já não bastasse o árduo trabalho, a entidade tem outro sério problema: dinheiro. O governo alemão doou cerca de 300 mil euros para a manutenção dos trabalhos, mas a entidade ainda esbarra na falta de disposição dos governos locais em colaborar na busca e conservação das áreas mapeadas.

A questão financeira, no entanto, não atinge somente a Yahad in Unum. Nem mesmo Auschwitz, o mais conhecido símbolo do Holocausto, está a salvo da falta de recursos. Os administradores de Auschwitz fazem malabarismos para manter do antigo campo de concentração da mesma maneira que era na Segunda Guerra Mundial. A busca por recursos para lá e os problemas financeiros que enfrentam já foram tema de dois posts anteriores deste blog.

Manter viva a lembrança daquela época, em especial quando já são poucos os remanescentes e sobreviventes, é de suma importância para o mundo. A tarefa é árdua, mas vale a pena. Tudo para que essas valas comuns, que contam um lado pouco conhecido da história do Holocausto, além de continuarem cobertas de terra e neve (dependendo da época do ano), não sejam soterradas para sempre pelo esquecimento. E com ela, parte de uma lição que a humanidade não pode jamais se dar ao luxo de esquecer.