terça-feira, 28 de setembro de 2010

A renúncia do presidente do Kosovo

Fatmir Sejdiu, presidente do Kosovo, renuncia ao cargo após ter sido condenado por ato inconstitucional. O Tribunal Constitucional do país decidiu que Sejdiu não poderia ocupar o cargo e, ao mesmo tempo, a presidência da Liga Democrática de Kosovo (LDK). Ele estava no poder desde 2006, quando a região ainda fazia parte (formalmente) da Sérvia.

Apenas dois anos mais tarde, Sejdiu seria um dos artífices da independência da então Província sérvia proclamada de forma unilateral e contra a vontade das autoridades de Belgrado.

Segundo a Constituição kosovar, a Presidência do país deve ser agora assumida temporariamente pelo presidente do Parlamento, Jakup Krasniqi, que pertence ao governante Partido Democrático de Kosovo (PKD), liderado pelo primeiro-ministro, Hashim Thaci.

A renúncia coloca em questão a coalizão entre o partido do primeiro-ministro Hashim Thaci, um ex-líder rebelde, cujo Partido Democrático é a maior força no Parlamento de 120 cadeiras. Unida, a coalizão detém uma confortável maioria, mas Sejdiu está sob pressão de seu partido para romper a união com Thaci. Thaci elogiou a saída de Sejdiu e disse que "todos têm a obrigação de respeitar" a Constituição do país.

A julgar pelo teor das declarações, disputa de poder à vista...

Uma pergunta que não quer calar: como isso vai interferire no processo de negociação com a Sérvia? Ainda não dá para responder adequadamente a essa pergunta. Mas certamente terá reflexos no jovem país, que ainda luta contra os problemas internos (desemprego, pobreza) e externos (falta de reconhecimento internacional) para se firmar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Entre mortos e exumados

Um lago artificial entre a Bósnia e a Sérvia é o local que ocultava a mais recente vala comum encontrada na antiga Iugoslávia.

Segundo nota da agência Efe, pelo menos 348 corpos foram retirados do fundo do lago Perucac, local que faz parte de uma central hidrelétrica e foi parcialmente esvaziado para obras de reparação no sistema. A maioria dos esqueletos são de vítimas da Guerra da Bósnia (1992-1995), mas foram encontrados também oito esqueletos de soldados austrohúngaros mortos durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – naquela época, a atual Bósnia havia sido anexada pelo Império Austro-Húngaro.

Assim como em Perucac ou nas proximidades de Srebrenica ou mesmo em qualquer parte da ex-Iugoslávia, ainda deve haver diversas valas comuns ainda desconhecidas, fruto de um passado recente que custa a deixar de se fazer presente.

As exumações de corpos de vítimas das guerras da década de 1990 na Iugoslávia mostram que muito – mesmo – ainda precisa ser feito para que os jovens países emergidos dos conflitos possam acertas as contas com o passado recente. E o saldo devedor deve incluir ainda milhares de corpos a serem exumados.

domingo, 12 de setembro de 2010

O que é que o futebol da Ucrânia tem?

Até poucos anos atrás, pouco se falava no futebol da Ucrânia, ex-república soviética. Mas, para quem acompanha minimamente o noticiário esportivo, a Ucrânia deixou de ser uma mera desconhecida.

Jogadores brasileiros vão e voltam com frequência de times ucranianos. Dynamo de Kiev e Shakthar Donetsk são os dois principais representantes do futebol do país, mas que já conta com uma terceira força, o Metalist Kharkiv.
Mas afinal de contas, o que é que a Ucrânia tem que atrai e convence tantos jogadores brasileiros a tentarem a sorte em um país com uma cultura, língua e clima tão diferentes do Brasil?

A Ucrânia também tem sua história no futebol. Era de lá a base das seleções soviéticas. Com o fim da URSS e a independência da Ucrânia, o país demorou para se firmar no cenário europeu. Mas tal situação vem mudando pouco a pouco. Em 2006, a Ucrânia chegou, pela primeira vez, a uma Copa do Mundo, e não fez feio. Caiu somente nas quartas de final. Em 2012, o país sediará a Eurocopa de seleções, ao lado da Polônia.

Os clubes – embora repletos de estrangeiros – refletem esse crescimento do futebol ucraniano. O Shakthar Donetsk, por exemplo, foi campeão da Copa da UEFA (hoje Liga Europa) em 2009, em cima do Werder Bremen (Alemanha). Os times ucranianos chegam com frequência às fases de grupos da Liga Europa e da Liga dos Campeões, o mais importante torneio de clubes da Europa – possivelmente, do mundo.

Os clubes gozam de boa estrutura e pagam bons salários – este último, em especial, é o que atrai os jogadores brasileiros interessados em jogar no exterior. Quando se destacam, atraem a atenção de outros clubes europeus. Dois bons exemplos são o meia Elano e o atacante Brandão, ambos ex-jogadores do Shakthar Donetsk. Hoje, o primeiro joga na Turquia, após passagem pela Inglaterra; o outro está no futebol francês .

Aos poucos, a Ucrânia perde a fama de “país escondido”, apesar de estar longe de oferecer a mesma visibilidade de outros torneios europeus, como o espanhol e o italiano. Mas a presença de brasileiros também ajuda a elevar o nível técnico dos times e do torneio local. Ou seja, acaba sendo uma troca interessante para ambos os lados.

Claro, nem todos os brasileiros que vão parar na Ucrânia conseguem se adaptar às condições do país – apesar de tal problema também ocorrer em outros países com cultura, clima e língua mais próximos ao do Brasil. Mas a Ucrânia cada vez mais torna-se uma solução interessante para jogadores que desejam a independência financeira – argumento usado pela empresa Traffic, por exemplo, ao noticiar a venda do meia palmeirense Cleiton Xavier para o ucraniano Metalist.

domingo, 5 de setembro de 2010

Brasileiro é ídolo no futebol da Sérvia

A seleção da Sérvia de futebol deve ganhar um reforço brasileiro para os próximos jogos. É o atacante brasileiro Cleo, que atua no Partizan, time da capital Belgrado e que aceitou o convite da Federação Sérvia de futebol para se naturalizar.



Cleo tem uma trajetória inusitada. Depois de uma passagem apagada pelo Atlético-PR, entre 2005 e 2006, foi jogar na Sérvia e atuou até 2008 pelo Estrela Vermelha, outro time de Belgrado.

Dispensado pelo antigo clube, Cleo foi protagonista de uma inusitada, rara – e perigosa – situação. Quase de malas prontas para voltar ao Brasil, aceitou proposta do Partizan, arquirrival do Estrela Vermelha. A transferência não foi bem vista pelos torcedores do ex-clube. Alguns chegaram a ameaçar de morte o jogador, o primeiro desde 1988 a protagonizar uma transferência entre os dois rivais da capital sérvia. Abaixo, o link do post deste blog que relembra o caso:

http://rumoaoleste.blogspot.com/2009/08/muito-mais-do-que-uma-mera-rivalidade.html

O incidente, pelo jeito, não prejudicou a carreira de Cleo, que virou ídolo do Partizan e recebeu o convite para se naturalizar sérvio. Um vídeo, disponível no YouTube e também no blog do UOL Esporte (link abaixo) traz uma amostra do porquê a Federação Sérvia deseja que o jogador defenda as cores do país. Ele fez um gol de bicicleta neste sábado na vitória do Partizan por 2 a 0 sobre o Hajduk Kula pela Superliga da Sérvia:

http://uolesporte.blogosfera.uol.com.br/2010/09/04/brasileiro-cleo-marca-golaco-de-bicicleta-na-servia/

Em tempo: o Partizan é um dos times classificados para a fase de grupos da Liga dos Campeões, que não disputava desde a temporada 2003/2004. Está no grupo H, ao lado de Arsenal, Sporting Braga e Shakthar Donetsk. É pouco provável que o Partizan consiga repetir o feito do rival Estrela Vermelha, que foi campeão da Liga em 1990. Mas surpresas sempre podem ocorrer no futebol. De qualquer forma, será uma boa oportunidade de ver como joga o atacante brasileiro – agora com cidadania sérvia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Beslan, seis anos

O dia 1º de setembro de 2004 ficou marcado como um dos mais sangrentos da historia recente da Rússia. Nessa data, grupo de 30 terroristas islâmicos tchetchenos e árabes invadiu uma escola em Beslan, uma pequena cidade da Ossétia do Norte com cerca de 30 mil habitantes na região sul do país. Era o primeiro dia do ano letivo russo.

Os terroristas submeteram um grupo de cerca de 1.200 pessoas mais de mil pessoas a três dias sem água e sem comida. Para enfrentar o calor, as crianças tiraram suas roupas. Eles não podiam comer ou tomar água e quem tentasse beber no vaso sanitário era metralhado.

No dia 3 de setembro, aconteceu o pior. Uma explosão derrubou o teto do ginásio no qual se encontravam os reféns e terroristas. Alguns parentes das vítimas e testemunhas garantem que a explosão foi resultado de um tiro de canhão de um dos carros de combate que cercavam a escola. Outros afirmam que as forças de segurança usaram lança-chamas. Ao final da ação, 334 pessoas – 186 delas, crianças – morreram. Somente um terrorista, Nurpashi Kulayev, foi capturado com vida, sendo depois julgado e condenado a prisão perpétua.



O ataque foi fortemente condenado pela comunidade internacional. Mas, seriam os terroristas os únicos responsáveis pela tragédia? Ou o governo russo também teve sua parcela de culpa?

"Os culpados nessa tragédia não são apenas os terroristas, mas aqueles que deveriam tê-los parados, os generais. E as autoridades que os apoiam, elas não permitem qualquer investigação (independente)", afirmou Ella Kesayeva, membro do grupo Voz de Beslan. A filha dela, então com 12 anos, sobreviveu à chacina, mas dois sobrinhos e o cunhado, não.

Poucos sobreviventes ou parentes das vítimas acreditam que houve mudanças significativas desde então. Poucos estão satisfeitos com as investigações oficiais, que em grande parte colocaram a culpa do incidente sobre os terroristas e absolveram a polícia da culpa por não evitar o massacre. Em se tratando de Rússia, desconfiar da disposição do governo de averiguar o que de fato ocorreu em Beslan é mais do que necessário para evitar que a tragédia, ocorrida a seis anos, venha a cair no esquecimento.