segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um atentado, uma grande guerra

Em 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo (Bósnia), então parte do império austríaco, foi aceso o estopim para um dos maiores conflitos armados da história. Nesse dia, foi assassinado o herdeiro do trono, o arquiduque Francisco Ferdinando. Sua mulher, Sofia Chotek, também morreu na ação.

O motivo do atentado: o herdeiro do trono desejava aumentar a influência das regiões eslavas no império austríaco, o que feria os objetivos expansionistas dos nacionalistas da Sérvia, que desejava incluir a Bósnia em uma futura “Grande Sérvia”. O ataque, articulado pela alta cúpula militar sérvia, foi executado por uma organização nacionalista sérvia chamada Mão Negra. O autor dos disparos foi um estudante chamado Gavrilo Princip, então com 19 anos.

Uma investigação austríaca concluiu que o atentado havia sido planejado na Sérvia, o que levou à declaração de guerra exatamente um mês depois. A Rússia, em apoio à Sérvia, declarou guerra à Áustria. Em pouco tempo, toda a Europa estaria em conflito. Começava a Primeira Guerra Mundial, que só acabaria em 1918.

Esse episódio é uma amostra de como estava o esquema de alianças na Europa entre fins do século XIX e XX e da importância da região dos Bálcãs no cenário geopolítico – com sua costumeira instabilidade. Os Bálcãs eram o pomo da discórdia entre Áustria e Rússia, dois dos grandes impérios da época. A Rússia tinha no nacionalismo sérvio uma grande força aliada, como ficou evidente no atentado de Sarajevo.

Ao final do conflito, a Áustria acabou perdendo sua posse e influência sobre territórios nos Bálcãs. A Rússia deixou a Guerra antes do fim, sacudida internamente pela Revolução Russa, mas a influência sobre os Bálcãs nunca deixou de existir por completo. Já nos próprios Bálcãs, entre outras mudanças, surgiu o Reino dos sérvios, Croatas e Eslovenos – que em 1929 trocaria seu nome para Iugoslávia – que significa Terra dos Povos Eslavos do Sul.

Com informações da Deutsche Welle

domingo, 20 de junho de 2010

Um futebolista para cônsul da Sérvia no Brasil

Ele joga há anos no futebol brasileiro e é ídolo no Flamengo, time de maior torcida no país. Mas seu nome e sotaque ao falar não negam: Dejan Petkovic é de origem sérvia, nascido na cidade de Majdanpek. Está no Brasil desde 1997, quando começou a jogar pelo Vitória da Bahia, após passagem frustrada pelo futebol espanhol.



De lá, Pet, como é conhecido no Brasil, passou por vários clubes: Vasco, Atlético-MG, Santos e Fluminense. Mas é com o Flamengo a sua relação mais íntima. O meia foi peça importante na equipe rubro-negra na conquista do Campeonato Brasileiro de 2009, mesmo já com idade avançada para o futebol moderno – está com 38 anos.

É com base nessa popularidade que Pet tem no Brasil que o ministro das relações exteriores da Sérvia, Vuk Jeremic, manifestou a intenção de nomear o meia como cônsul honorário da Sérvia no país, em busca de estreitar as relações entre Brasil e Sérvia

Jeremic deu a declaração logo após uma reunião com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, em Belgrado. No encontro, ficou acertado o fim da exigência de visto para sérvios e brasileiros entrarem nos dois países.

Por trás dessa visita, no entanto, há outros fatores ocultos. O Brasil é um dos países que ainda não reconheceu a independência do Kosovo – a posição oficial brasileira é a de que o fará caso a ONU também reconheça o novo país, o que ainda não ocorreu. Para a Sérvia, é interessante ter o apoio de um país que, independente de certos tropeços recentes na política externa, é cada vez mais importante no cenário político internacional. Para o Brasil, é uma porta aberta na região dos Bálcãs para negócios e outros acordos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tito, por dois jovens

Líder estadista e herói para alguns, déspota e assassino para outros. As opiniões sobre Tito na antiga Iugoslávia oscilam entre esses dois extremos. É verdade que Tito foi o artífice da libertação da Iugoslávia do jugo nazista na Segunda Guerra Mundial, mas também exerceu com mão de ferro seu governo sobre o país até morrer, em 1980.

Essas impressões sobre Tito ficam ainda mais fortes ao conversar com pessoas que vivem na região da antiga Iugoslávia. A admiração pelo antigo líder é maior entre as pessoas mais velhas. As mais jovens tendem a apresentar uma visão mais crítica do antigo governante, como a estudante de Medicina sérvia Ivana Vukovic, que vive em Belgrado. “Na verdade, a opinião geral é de que ele era um bom político, mas ele ferrou com a Sérvia e até hoje sofremos as consequências de sua época”.

Visão parecida com a de Ivana tem Ivo Marinovic, de Mostar (Bósnia Herzegovina). “Durante sua ditadura, Tito fez coisas boas e ruins. Ele construiu cidades, pontes, não faltava nada à população – se bem que não havia muitas opções, além de produtos iugoslavos, russos e de outros países do bloco soviético. Mas as pessoas eram como pássaros em uma gaiola, sem liberdade de expressão, para trabalhar ou viajar”, explica.

Marinovic também dá uma mostra de como Tito manteve, sob relativa harmonia, os povos que compunham a antiga Iugoslávia. “Na época, era crime você se dizer croata, por exemplo”.

As opiniões acima revelam como a questão sobre Tito e a história dos Bálcãs são muito mais complexas do que se imagina. E que os 30 anos da morte de Tito e as quase duas décadas de esfacelamento da Iugoslávia ainda permanecem como feridas mal cicatrizadas na região dos Bálcãs.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Inimigos ontem, aliados hoje

O inimigo de ontem pode vir a ser o aliado de amanhã. Essa frase se aplica bem à atual relação entre Turquia e Sérvia.

Só para relembrar: foi em uma batalha contra os turcos (a famosa Batalha do Kosovo, de 1389) que o então Império Sérvio teve sua expansão brecada pelos Bálcãs. Além do mais, perdeu sua independência e passou para o domínio dos vencedores, os otomanos, de onde saiu somente em 1875. Nos gritos nacionalistas sérvios, o ódio aos turcos – e ao que possa vir a ter alguma ligação com eles – é um elemento comum.

Rivalidades à parte, Turquia e Sérvia hoje têm muito mais convergências do que divergências. Ambos tentam o ingresso na UE, mas são vistos com desconfiança pelos demais países-membros. Ambos convivem com o separatismo à porta – enquanto s turcos têm seu maior problema em relação aos curdos a Sérvia tem no Kosovo uma dor de cabeça ainda maior, já que mesmo sem plena aceitação internacional, a separação da antiga província de maioria albanesa é praticamente irreversível.

Com tantos pontos em comum, não é de se admirar que haja uma aproximação entre os dois governos em prol de um peso maior para ambos no cenário regional e europeu. As pretensões turcas ficaram bem evidentes no post anterior. Já os sérvios querem apagar a má impressão com a qual ficou após as guerras que dissolveram a antiga Iugoslávia. Até mesmo pediram desculpas aos bósnios pelo massacre de Srebrenica, que completará 15 anos em julho, e estão empenhados na caça aos responsáveis pelo episódio. Um deles, Karadzic, já está preso e sendo julgado no Tribunal de Haia; o outro, Mladic, ainda está foragido.

A situação é mais favorável à Sérvia, de fé cristã ortodoxa. A Europa não consegue engolir com facilidade a possibilidade de um país islâmico como a Turquia ingressar na UE. A batalha promete ser longa para ambos.