quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pegadas da Guerra do Kosovo

A guerra mais recente da história dos Bálcãs também deixa suas pegadas. Uma vala comum com cerca de 250 corpos foi encontrada perto da cidade de Raska, perto da fronteira com Kosovo, que declarou independência em 2008.

Os corpos seriam de albaneses mortos durante a guerra do Kosovo (1998-1999), na qual a então província sérvia, de maioria albanesa, lutava pela independência. Com o fim da guerra, a região ficou sob tutela da ONU até 2008, quando a região declarou independência unilateral da Sérvia. Independência esta que ainda divide a comunidade internacional, mas que acho irreversível

A Guerra do Kosovo contribuiu para manchar ainda mais a imagem da Sérvia (na época ainda adotava o nome Iugoslávia, em conjunto com Montenegro), ainda associada ao presidente Slobodan Milosevic, que morreu em 2006 enquanto respondia pelos crimes de guerra dos quais era acusado. A Otan, que interveio no conflito, também saiu manchada: acertava pontes de Belgrado, fazia barulho, mas pouco fez para coibir a limpeza étnica promovida pelo governo Milosevic.

Certeza mesmo, só a respeito dos reais perdedores: centenas de albaneses alojados em campos de refugiados em países vizinhos (Macedônia e Albânia, em especial) devido ao conflito. E pelo jeito agora já se sabe qual o destino de 250 daqueles que, em vez dos campos de refugiados, conheceram as valas comuns

terça-feira, 4 de maio de 2010

Morte de Tito completa hoje 30 anos

O 4 de maio deste ano marcou o aniversário de 30 anos da morte do ex-líder iugoslavo Josip Broz Tito.

Nascido em Kumorvec, um vilarejo da atual Croácia em 1892, Tito foi o maior responsável pela libertação da Iugoslávia do domínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, comandando a Frente de Libertação Nacional - seus integrantes eram conhecidos como partizans. Chegou ao poder no país em 1945, como primeiro-ministro, e assumiu a presidência em 1953, saindo dela somente após morrer em um hospital de Ljubljana, na atual Eslovênia.



Durante esse tempo, Tito conduziu a Iugoslávia para o bloco comunista da Europa, mas não era alinhado com o regime soviético. Isso permitiu a Tito ter maior liberdade de atuação no país e também fora dele. Tito tornou-se um dos principais expoentes do não-alinhamento durante a Guerra Fria. Em 1961, ele promoveu a Conferência Internacional dos Países Não-Alinhados, onde ficou determinado que as nações participantes tomariam uma postura de neutralidade em relação à Guerra Fria.

Outra prova de respeito da comunidade internacional em relação a Tito foi seu funeral, que reuniu em Belgrado delegações de 128 países.

Tito também conduziu com mão-de-ferro o país, não deixando que nada escapasse ao seu controle – para o bem e para o mal. Um de seus grandes méritos foi o de esfriar as disputas envolvendo os povos que compunham a Iugoslávia. Conseguia fazer com que sua autoridade fosse respeitada por todos os povos. E sua morte, para muitos, significou o começo do fim da antiga Iugoslávia, já que a partir dela os choques entre sérvios, croatas e Cia. começaram a se tornar mais intensos até explodirem de vez no começo da década de 1990

O túmulo de Tito, em Belgrado, é um dos principais pontos turísticos da atual capital sérvia. Estima-se que 17 milhões de pessoas já estiveram no local desde 1980

PS: A Avenida Marechal Tito, uma das vias mais importante do extremo leste da cidade de São Paulo, foi batizada assim em homenagem ao ex-líder iugoslavo

domingo, 2 de maio de 2010

Rastko Pocesta, 12 anos, ativista

O sérvio Rastko Pocesta, com apenas 12 anos, é ativista de Direitos Humanos em seu país. Ele ficou famoso com artigos publicados em blogs e no Facebook, onde faz campanha para que a Sérvia participe da União Europeia (UE) e da Otan.

Para ele, o ingresso do país no bloco europeu traria estabilidade econômica e prosperidade ao país; quanto a Otan, Pocesta diz que a adesão à aliança militar ajudaria na segurança dos sérvios.

Ele ainda tem uma outra posição, para lá de polêmica na Sérvia: defende a independência do Kosovo, o que é visto paraticamente como uma heresia pela maior parte do país.

Por essas posições políticas, o garoto é ameaçado de morte por grupos ultranacionalistas – que ainda são fortes no país – e que o acusam de trair os valores sérvios. A organização direitista Obraz, que considera todo sérvio pró-Ocidente um traidor, faz o seguinte comentário sobre Pocesta na internet:
"Nós deveríamos quebrar os ossos dessa criança, e então as suas ideias."

Li um dos artigos do garoto publicado no site de relacionamentos Facebook – com a ajuda de tradutores online, claro, Nele, Pocesta critica a Rússia, aliada histórica da Sérvia, afirmando que Moscou apenas se utiliza de Belgrado para manter hegemonia sobre a região dos Bálcãs e da falta de democracia do país.

Atualmente, vive sob proteção oficial do governo – que tem inclinação pró-Ocidente, como Pocesta.

A situação de Rastko Pocesta mostra bem a divisão política no país. A Sérvia tenta deixar para trás a má impressão com a qual ficou após as guerras dos anos 90 na região. Ao mesmo tempo, movimentos ultranacionalistas ainda encontram simpatia junto à população. O atual governo do país é pró-Ocidente, é favorável à aproximação do país com o Ocidente, visando a entrada da sérvia na Otan e na EU – assim como o garoto Pocesta. Mas outra parcela da população não vê com bons olhos essa política – e a oposição está bem atenta a esses anseios.

Uma dúvida certamente deve vir à sua mente, assim como vem à minha: existe alguém por trás de Pocesta? Fica até difícil imaginar como um garoto de 12 anos consegue escrever e opinar sobre assuntos tão complexos e espinhosos. De qualquer forma, vale a pena ficar de olho no que ele escreve e prega, e assim entender um pouco mais da complexa realidade desse país do leste da Europa.