domingo, 26 de dezembro de 2010

Belarus e o "último ditador da Europa"

A ex-república soviética de Belarus (também conhecida como Bielorrússia) conserva o que alguns costumam chamar de “último ditador da Europa”. Trata-se de Alexander Lukashenko, 56, que governa o país há 16 anos com mão de ferro.

Recém eleito para o quarto mandato consecutivo, em um pleito sob o qual pairam suspeitas de fraudes, ele procura se apresentar como um homem do povo. Mas não se acanha em usar forças de segurança do Estado para perseguir oponentes políticos, censurar a imprensa, violar Direitos Humanos, entre outras atitudes despóticas.



Mas, em nome da estabilidade em Belarus – algo pouco comum em antigas repúblicas soviéticas – Lukashenko tem seus desmandos tolerados pela União Europeia (UE). Até mesmo a Rússia, grande aliada do atual regime, se vê obrigada a tolerar certos caprichos. Um deles, relatado pela revista alemã Der Spiegel, foi o cancelamento de um encontro com o presidente Dmitri Medvedev porque Kolya, filho mais novo de Lukashenko, estava doente.

A exemplo de outras ex-repúblicas soviéticas, Belarus é dependente economicamente da Rússia, em especial no setor de energia. Moscou já teria investido o equivalente a US$ 100 milhões no país desde o colapso soviético.



Por causa de seus desmandos, Lukashenko foi temporariamente proibido de entrar na EU. Já o líder bielorrusso prefere dizer que a Europa “o abandonou”. Entre outras reclamações, diz que a internet está “cheia de sites hostis ao país” e acusa o Ocidente de “tentar transformar suas mulheres em prostitutas”, “fornecer drogas ilícitas aos cidadãos” e “espalhar a perversão homossexual” na nação.

Com essa desculpa, Lukashenko mantém uma relação bastante próxima com a Coreia do Norte, com direito a felicitações pelo aniversário do lunático ditador Kim Jong Il. Outro parceiro controverso do regime de Minsk é a Venezuela, governada por Hugo Chávez.

Mas, como já dito acima, é Lukashenko é tolerado por Rússia e UE por ser visto como um sinal de estabilidade para Belarus. Ou seja, mais uma vez, parte considerável da comunidade internacional, em nome de um controle ilusório sobre o bielorrusso, cai no mesmo erro já cometido em relação a outros personagens no decorrer da história – como o ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic e outros ditadores que espalharam sangue pela América Latina, África e Ásia, em especial na época da Guerra Fria.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Kosovo, um nó difícil de desatar

Não adianta tentar identificar mocinhos e bandidos nessa história toda. Dentre os poderosos de Sérvia e Kosovo, bem como de outros países da região dos Bálcãs, é difícil encontrar alguém que não tem ou teve algum tipo de ligação com alguma atividade ilegal – crimes de guerra, corrupção, tráfico de armas, órgãos, etc.


É nesse contexto histórico-político que se encaixa a denúncia que atinge Hashim Thaçi, primeiro-ministro do Kosovo. Ex-guerrilheiro do Exército de Liberação de Kosovo (ELK), que liderou uma insurgência contra a Sérvia (1998-1999), o atual premiê é apontado como comandante de uma organização criminosa albanesa chamada Drenica, que trafica armas, drogas e órgãos humanos na Europa oriental.

A conclusão é de um relatório elaborado pelo Conselho da Europa, que também acusa o suposto grupo de Thaçi de ser responsável por “assassinatos, detenções, espancamentos e interrogatórios”, além de sequestro de sérvios, cujos órgãos depois eram vendidos no mercado negro. O relatório destaca que a comunidade internacional deplorou as atitudes de Belgrado, mas teria se omitido a respeito dos crimes do ELK.

O governo kosovar acusa a Sérvia de estar por trás das acusações contra Thaçi. No entanto, o relatório do Conselho da Europa partiu de denúncias feitas em 2008 pela ex-promotora do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, Carla del Ponte, e aprofundadas em reportagens de Michael Montgomery e Altin Raxhimi, do Centro de Jornalismo Investigativo (EUA) e da Rede de Jornalismo Investigativo dos Bálcãs – ou seja, estão dotadas de forte base.

Para Belgrado, as acusações contra a cúpula do governo de Kosovo constituem mais um argumento contra a declaração de independência da antiga província. Para Pristina, o relatório é visto como uma forma de tentar deslegitimar o jovem Estado.

Desde a independência, o Kosovo se debate para consolidar a emancipação frente à Sérvia, mas as dificuldades são evidentes. A infraestrutura e a economia são frágies, e o desemprego atinge de 40% a 50% da população, deixando um terreno fértil para o desenvolvimento de uma economia informal, dominada pelo contrabando e pelo crime organizado. Para alguns analistas, o Kosovo é um Estado dominado por quadrilhas de traficantes – drogas, armas, órgãos –, com envolvimento direto ou indireto das autoridades atualmente no poder.

O que existe no Kosovo pode ser observado em menor escala em praticamente toda a região que estava do lado oriental da então “Cortina de Ferro”. O colapso do modelo econômico inspirado na União Soviética e a passagem para o regime capitalista da noite para o dia deixaram um terreno fértil para o desenvolvimento da corrupção e o crime organizado, que já haviam florescido nos anos derradeiros do regime “socialista” (se é que realmente tenha existido de fato um regime assim nesses países).

O nó representado pelo Kosovo, cada vez mais apertado pelo contexto econômico e pelos elementos nacionalistas mostra-se cada vez mais difícil de ser desatado. A independência kosovar é um fato consumado, com ou sem aprovação sérvia e de parte da comunidade internacional. Mas o maior erro que esta pode cometer em relação ao Kosovo é fazer vista grossa à situação do país e deixar o novo Estado à própria sorte, dando continuidade à postura de omissão que assumiu na maioria dos casos perante aos Bálcãs. O relatório do Conselho da Europa é um grande passo para expor a gravidade da situação, mas simplesmente apontar o dedo não basta. É preciso punir os criminosos e dotar o Kosovo do que for necessário para o país se desenvolver, sem a “ajuda” de organizações criminosas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Croata vai treinar o Estrela Vermelha, da Sérvia

“Este clube fez muito por mim e eu quero fazer algo em troca”

Este é Robert Prosinecki, 41, ex-meio-campista que disputou Copas do Mundo pelas seleções da Iugoslávia e Croácia, e que entra para a história ao ser o primeiro croata a dirigir um time sérvio, o Estrela Vermelha, no qual atuou entre 1987 e 1991.

A contratação de Prosinecki é uma atitude pragmática e ousada.

Pragmática por representa uma forma de tentar reverter o mau momento do clube. Além de atravessar uma grave crise econômica, está cinco pontos atrás do arquirrival Partizan, líder do Campeonato Sérvio, e não consegue se achar na atual temporada. Prosinecki é o quarto técnico a passar pelo clube neste ano – situação comum em times brasileiros, mas não nos europeus.

Ousada porque a torcida do time transpira nacionalismo e não deve estar engolindo com facilidade o fato de o novo treinador ser croata. Ser um dos ídolos históricos do clube pode servir de contrapeso à origem, mas de pouco valerá o passado glorioso se os resultados não vierem logo.

"O Estrela Vermelha é um nome, um clube com grande reputação no mundo. Agora é um gigante adormecido que tem que despertar", declarou Prosinecki ao jornal sérvio "Sportski Zurnal".

Em nome de dias melhores, o clube espera que Prosinecki consiga retribuir a projeção que recebeu no começo da carreira – após o Estrela Vermelha, o meia jogou em grandes clubes da Europa, como Real Madrid e Barcelona.

E, claro, será no mínimo curioso se o Estrela Vermelha voltar a ter sucesso dentro e fora da sérvia sob o comando de um... croata.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Rússia, 2018

Primeira Copa no leste europeu, projetos ambiciosos, dinheiro (muito), lobby. Com esses argumentos e elementos persuasivos, a Rússia foi eleita pela Fifa a sede da Copa do Mundo de 2018, vencendo a candidatura individual da Inglaterra e as coletivas de Espanha/Portugal e Holanda/Bélgica. Para 2022, o torneio será disputado no Qatar, mas aqui nos ateremos aos russos.


Protestos das demais candidaturas à parte, a vitória da Rússia na escolha para sede em 2018 representa um importante retorno para o alto investimento que o futebol do país vem recebendo nos últimos anos, com os clubes russos conquistando espaço no cenário europeu e também tornando-se destino de jogadores de alto nível técnico. Serve também como um impulso a mais para desenvolver o esporte por lá.



Mas, conforme já foi falado neste blog, o investimento sobre o futebol e outros esportes é, sobretudo, uma questão de Estado na Rússia. E também uma vitória do premiê e ex-presidente russo Vladimir Putin, um dos entusiastas da Copa no país e que deve usar o fato como um dos trunfos para voltar ao poder, em 2012.

Tecnicamente, a candidatura russa era a mais fraca das quatro finalistas, mas um dia antes do anúncio a escolha pela Rússia já era dada como certa pelo país. Protestos das postulantes perdedoras não faltaram, especialmente da Inglaterra – que ficou em último entre as quatro possíveis sedes. O próprio pleito para a escolha da sede já estava com a credibilidade comprometida, com negociações de favorecimento e acusações de lobby brotando aos montes. Denúncias de corrupção no seio da Fifa contribuíram para engrossar o caldo de desconfiança por trás do pleito.


As escolhas, claro, tiveram alto teor político. Das candidatas a sedes do Mundial, a Rússia é a que menos sofre com os efeitos da crise econômica que assola a Europa – em especial Espanha e Portugal, dentre as postulantes. Também segue a lógica atual da Fifa de promover rodízio entre os continentes na escolha das sedes (África do Sul em 2010, Brasil em 2014, Qatar em 2022), privilegiando países emergentes. Também interessa a Fifa ganhar apoio em mercados emergentes, dotados de dinheiro e que podem contrabalançar a falta de respaldo vinda de locais com mais tradição no futebol. A Rússia se encaixa perfeitamente nesse contexto.

Dinheiro não deve ser problema para os russos – que preveem gastar pelo menos US$ 20 bilhões para deixar o país pronto para receber a Copa. Além dos recursos arrecadados com petróleo e gás Entre os avalizadores da Copa russa está o magnata Roman Abramovitch, dono do Chelsea – cujo nome costuma aparecer associado a denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro – , dotado de uma fortuna estimada em US$ 11,2 bilhões.

Enquanto alguns poucos homens ostentam bilhões em fortuna, a realidade na sociedade russa é bem diferente. Apesar do forte crescimento econômico nos últimos anos, a desigualdade social no país é evidente. O custo de vida – especialmente na capital, Moscou – é dos mais altos do mundo. Apesar de ter uma renda per capita de US$ 9.050 (2007), cerca de 24 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza no país. Há sempre a chance que megaeventos como a Copa do Mundo possam deixar como herança muito mais do que estádios de futebol supermodernos, como melhorias na infraestrutura, mais emprego e desenvolvimento econômico e, consequentemente, melhor qualidade de vida à população. No entanto, com poucas exceções, o que ocorre atualmente é justamente o contrário.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Diretor quer mudar imagem criada por Borat do Cazaquistão

A ex-república soviética do Cazaquistão ficou célebre no mundo em 2006 com a exibição nos cinemas do filme humorístico “Borat”, do britânico Sacha Baron Cohen. A imagem que ganhou o mundo, no entanto, não foi das mais favoráveis ao país, retratado de forma sarcástica no longa como um lugar atrasado. O longa do humorista inclusive, teve a exibição vetada no país asiático.

Para tentar mudar essa distorção o cineasta local Erkin Rakishev anuncia que fará uma continuação do longa de Cohen, intitulado “My brother, Borat”. Na nova história, um jornalista americano chamado John vai ao Cazaquistão após assistir ao famigerado “Borat”. Lá, conhece Bilo, irmão do repórter vivido por Sacha, que o leva a conhecer o verdadeiro país.

"Todo cazaque que vai ao Ocidente sente desconforto ao dizer de onde vem porque os ocidentais associam o país ao filme Borat", disse Rakishev à BBC. Queremos que o público ocidental assista (ao novo filme) e tenha uma melhor compreensão de como é o Cazaquistão na realidade", completa. A matéria completa da BBC Brasil sobre o assunto pode ser lida aqui.

O filme de Rakshev, no entanto, também aposta em cenas satíricas, algumas até polêmicas. Em uma delas, Bilo é estuprado por um jumento e, em outra, uma mulher idosa é vista batendo nos dois personagens principais com uma vareta.

A previsão é que o novo longa seja lançado no país em 2011

O Cazaquistão, país de maioria muçulmana, ocupa a 66ª posição no IDH e tem sua economia baseada sobretudo em reservas de petróleo e gás natural. É governado com mão de ferro desde 1991 por Nursultan Nazarbayev, aliado de Moscou, e é conhecido por perseguir opositores.

Esse lado mais obscuro do real Cazaquistão provavelmente não será confrontado pelo filme de Erkin Rakishev.

*Postagem número 100 deste blog

domingo, 21 de novembro de 2010

Vukovar, uma versão croata de Srebrenica

Se o dia 11 de julho de 1995 é lembrado com pesar pelos bósnios devido ao massacre em Srebrenica, a Croácia tem sentimento semelhante quanto ao dia 18 de novembro de 1991. Naquele dia, a pequena cidade de Vukovar, próxima à fronteira com a atual Sérvia, sucumbiu a um cerco formado por tropas sérvias que durou três meses. Cerca de 200 pessoas morreram na ação.


O episódio foi um dos mais críticos da guerra de independência da Croácia, iniciada em 1991 e encerrada oficialmente somente com o acordo de paz de Dayton, em novembro de 1995.



Claro, a dimensão do cerco e ataque a Vukovar foi menor do que o ocorrido quatro anos depois na Bósnia, mas foi o suficiente para, na época, a Comunidade Europeia (atual UE) adotar sanções contra a Sérvia.
A pequena cidade croata hoje conta com apenas cem habitantes. No bairro de Ovcara, onde foram encontradas valas comuns com pelo menos 264 corpos, foi erguido um memorial às vítimas do cerco.



O presidente sérvio, Boris Tadic, foi o primeiro governante do país a visitar o memorial, no último dia 4 de novembro. Na ocasião, pediu desculpas pelo ataque, que matou quase 200 civis e prisioneiros de guerra croatas.

O gesto histórico de Tadic, o primeiro governante sérvio a visitar Vukovar, é de fato um importante passo em direção à reconciliação entre os dois povos. Ambos sonham com o ingresso no UE – até agora só a Eslovênia já chegou lá, entre as ex-repúblicas iugoslavas – e alimentar as rusgas entre os dois países seria ruim para ambos.

As diferenças, contudo, ainda são fortes e com profundas raízes dos dois lados. Por exemplo, nunca é demais lembrar que, na Sérvia, chamar alguém de “croata” é uma grave ofensa.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sérvia oferece 10 milhões de euros por acusado de genocídio

Dez milhões de euros. É o que oferece o governo sérvio pela captura do general sérvio-bósnio Ratko Mladic, acusado de crimes de guerra durante a Guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995. Foi ele quem comandou o massacre à pequena cidade de Srebrenica ,em 11 de julho de 1995, no qual cerca de 8 mil pessoas foram mortas.


Foragido desde o fim do conflito, o paradeiro do militar continua sendo uma incógnita. Agora com 68 anos, especula-se que estaria escondido em algum lugar da capital sérvia, Belgrado.


 
A captura de Radovan Karadzic em 2008 – ex-presidente da República Sérvia da Bósnia e também apontado como um dos responsáveis pelo massacre de Srebrenica – amenizou as críticas da comunidade internacional à Sérvia, suspeita de acobertar os fugitivos. Ao mesmo tempo, mostra que achar o general não é uma tarefa impossível, servindo como elemento para pressionar o governo a encontrar Mladic.

Apesar do aumento da recompensa – era de um milhão de euros até outubro –, o empenho de Belgrado é visto com desconfiança por parte da comunidade internacional, já que o militar é considerado um herói pelos nacionalistas sérvios – cujos ideais cativam parcela considerável do eleitorado do país..

A biografia do general traz ainda mais elementos que reforçam tal imagem: ele teve os pais mortos durante a Segunda Guerra Mundial por nacionalistas croatas – que na época eram alinhados com a Alemanha nazista. A filha mais nova do general se suicidou em 1994 – supostamente ao ver uma matéria de jornal que chamava o pai de assassino, o que teria aumentado a fúria de Mladic.

Outro impedimento seria a própria disposição da sociedade sérvia em entregar o militar. Uma pesquisa feita pela rede de televisão local B92 revela que somente 14,29% dos entrevistados revelariam informações sobre o paradeiro de Mladic, enquanto 65,14% não o fariam e outros 20,57% declararam não ter opinião formada a respeito.

Existe a pressão externa para a Sérvia achar e prender Mladic. Belgrado tem mostrado empenho, já que a captura facilitaria o ingresso do país na sonhada UE e ajudaria a desconstruir a imagem negativa criada especialmente durante a era Milosevic. Mas o apoio do qual o general goza dentro da Sérvia jogam contra esse empenho.

A novela Mladic deve ganhar mais e mais novos capítulos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Esporte, assunto de Estado na Rússia

A exemplo dos tempos de União Soviética e Guerra Fria, o esporte é ser tratado como uma questão de Estado na Rússia. Prova disso é o empenho do Kremlin para trazer eventos de grande porte ao país e desenvolver modalidades – especialmente o futebol.


A Rússia será sede dos próximos Jogos de Inverno, em 2014, na cidade de Sochi. No mesmo ano, sediará sua primeira corrida de Fórmula 1 – já conta com o russo Vitaly Petrov, da escuderia Renault, entre os competidores. Ainda no campo da velocidade, a montadora Marussia assumiu o controle da escuderia Virgin, da qual era apenas patrocinadora.

O grande objetivo da Rússia, no entanto, é receber a Copa do Mundo de 2018. E não deve faltar dinheiro para o empreendimento, que tem orçamento disponível de US$ 30 bilhões – três vezes mais do que a previsão de investimentos para a Copa de 2014, no Brasil.

Outra frente na qual atua o futebol russo são os clubes e o campeonato local. Os times do país não economizam para trazer grandes reforços e tentar aumentar o nível do torneio nacional – torna-se, inclusive, destino já comum para jogadores brasileiros, como o meia Carlos Eduardo (Rubin Kazan) e o atacante Vagner Love (CSKA).

Grandes empresas do país são responsáveis por boa parte dos recursos recebidos pelos clubes de maior projeção atualmente nos cenários nacional e europeu –como Spartak de Moscou (Lukoil, petróleo) e Zenit (Gazprom, gás natural). Sobra dinheiro até para clubes emergentes, como o Rubin Kazan– bancado por uma empresa de diamantes – atual campeão russo e que joga a Liga dos Campeões.

O retorno já pode ser notado em campeonatos europeus, com as conquistas de CSKA e Zenit na antiga Copa da Uefa (hoje Liga Europa), em 2005 e 2009, respectivamente. Na seleção nacional, chegou às semifinais da Euro-2008, perdendo para a campeã Espanha, e ficou fora das Copas de 2006 e 2010. Com jogadores de destaque, como os atacantes Arshavin e Pavlyutchenko, e tendo parte dos recursos aplicada em divisões de base, resultados mais expressivos no futebol devem chegar a médio e longo prazo.

Na verdade, o fortalecimento da Rússia no cenário esportivo – já consolidado em modalidades como o vôlei, ginástica e esportes de inverno – por meio de recursos públicos, de empresas estatais ou privadas com boas relações junto ao Kremlin, revela uma nova frente da política externa de Moscou. Faz parte de uma estratégia já iniciada pelo então presidente Vladimir Putin de recuperar o prestígio perdido pelo país na dura transição do regime soviético para o capitalista.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lady Gaga usa bandeira da Eslovênia em show na Croácia

A cantora Lady Gaga protagonizou uma grande gafe geográfica durante show em Zagreb, capital da Croácia, no último sábado.


Além de ter pedido aos fãs que mostrassem as genitálias – o que não pode ser considerado uma surpresa, em se tratando de Lady Gaga – ela se embrulhou depois em uma bandeira da vizinha Eslovênia.

A mídia local especula se o episódio foi mesmo um erro da cantora ou algum tipo de provocação.

A relação entre croatas e eslovenos não é das mais cordiais. Os dois países nunca guerrearam entre si, mas possuem arestas que se arrastam por anos. Atualmente a grande discussão entre croatas e eslovenos é uma disputa territorial que, para a Eslovênia, pode custar a perda do já minúsculo litoral do país.

Por outro lado, a Eslovênia é a única das antigas repúblicas iugoslavas que já faz parte da UE. A vizinha Croácia é uma das candidatas a entrar no bloco, mas o ingresso enfrenta justamente a oposição da Eslovênia.

A disputa territorial entre croatas e eslovenos rende episódios inusitados. Um deles, já relatado neste blog (clique aqui para saber mais) é a taverna Kalin, localizada exatamente na fronteira entre os dois países e com direito a uma faixa amarela dentro do estabelecimento demarcando a fronteira.

domingo, 31 de outubro de 2010

Mesquita vira motivo de polêmica na Rússia

O islamismo não é motivo de polêmicas apenas na Europa Ocidental. No leste europeu, mais exatamente na Rússia, a construção de uma mesquita vem provocando controvérsias em Moscou, conforme relata matéria do semanário alemão Der Spiegel (disponível para assinantes do portal UOL).




Além de ser um desdobramento que já ocorre em outros países europeus (como a proibição da burca na França e a questão sobre a imigração na Alemanha), a desconfiança cultural e social em relação ao Islã na Rússia tem um fator adicional: os conflitos separatistas existentes envolvendo povos de fé muçulmana que vivem na Rússia.

O mais conhecido deles é em relação à Tchetchênia, na conturbada região do Cáucaso, sul do país. Extremistas islâmicos vindos em especial dessa república separatista estiveram envolvidos em diversos atentados ocorridos na Rússia nos últimos anos. Em contrapartida, a reação violenta do governo russo alimenta o sentimento de ódio contra Moscou e os próprios grupos separatistas, já que as regiões que contestam a soberania do governo russo pouco ou nada recebem em troca. Um círculo vicioso que não ajuda nenhum dos lados a buscar um possível diálogo.

Estima-se que a população muçulmana na Rússia seja de 20 milhões de fieis, sendo que 1,5 milhão deles vivem na capital Moscou, local da mais nova polêmica.

sábado, 23 de outubro de 2010

Jornal de SP destaca rivalidade entre Estrela Vermelha e Partizan na Sérvia

A rivalidade entre os times sérvios do Estrela Vermelha e do Partizan foi tema de reportagem do jornal Folha de S.Paulo deste sábado. Os dois times jogam hoje pelo campeonato sérvio, no estádio do Estrela Vermelha, com direito a um forte esquema policial para evitar carnificina entre as duas torcidas.

A análise seria mais válida se tivesse ocorrido logo após os lamentáveis incidentes provocados por torcedores do Estrela Vermelha em Gênova, provocando o cancelamento da partida entre Itália e Sérvia pelas eliminatórias da Euro-2012. Mas a matéria é feliz em apontar três fatores por trás da baderna provocada na Itália:

1 - a hostilidade de torcedores do Estrela Vermelha contra o goleiro Stojkovic, que trocou o clube pelo Partizan, onde atua hoje – com direito a depoimento do atacante brasileiro Cléo, agora naturalizado sérvio, que tomou o mesmo caminho em 2008 e também sentiu o peso da ira da torcida do Estrela Vermelha ao ir para o Partizan, onde hoje é ídolo.

2 – falar da origem dos times na antiga Iugoslávia. O Estrela era vinculado ao Partido Comunista e tinha a simpatia da polícia. Já o Partizan tinha como base o exército responsável pela libertação da Iugoslávia pelos nazistas (os Partisans), comandados pelo marechal Tito, logo depois presidente da Federação Iugoslava e simpático ao Partizan.

3 – voltar até a Batalha do Kosovo de 1389 para explicar as raízes do nacionalismo sérvio, usado como pretexto pelos baderneiros de plantão que, sem guerras, usam o futebol e outros eventos que atraem multidões para “ se expressarem”

Em geral as notícias dadas sobre o leste europeu costumam se bastante superficiais na grande imprensa. A matéria citada aqui, felizmente, vai no sentido contrário. Claro, alguns pontos passam despercebidos, como o fato da torcida Partizan estar longe de ser uma madre de pés descalços. Apesar de ser considerada mais tolerante do que a do Estrela Vermelha, é tão violenta quanto à rival.

Outro ponto não citado que pesa na rivalidade entre os dois times é justamente Tito. Herói da libertação iugoslava contra os nazistas,o marechal e comandante do país entre 1945 e 1980 era de origem croata – algo que os ultranacionalistas sérvios custam a engolir. Por isso, a torcida do Estrela Vermelha costuma chamar os apoiadores do Partizan de “croatas”, ofensa considerada grave entre os sérvios .

No balanço final, a matéria é muito positiva ao ir além do que se costuma ver na grande imprensa. Pena é que uma região com uma cultura e história tão ricas apareça no noticiário internacional mais por guerras passadas e badernas provocadas por vândalos do que pelas suas qualidades .

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Filme de Angelina Jolie causa polêmica na Bósnia

Famosa como atriz e ativista de causas humanitárias pelo mundo, Angelina Jolie agora também tenta a sorte como diretora. E escolheu um tema para lá de arriscado e espinhoso para sua estreia: um romance entre uma bósnia muçulmana e um soldado sérvio durante o início da Guerra da Bósnia (1992-1995) e a influência do conflito no relacionamento entre ambos.


A grande polêmica veio quando boatos repercutidos pela imprensa bósnia apontavam que o roteiro do filme, na verdade, tratava de uma história de amor entre uma mulher muçulmana violentada e seu carrasco, um sérvio, causando indignação nas associações de vítimas de guerra. Os organizadores do filme negaram a veracidade dos boatos, mas a polêmica já estava criada.

A repercussão dos rumores levou à proibição de filmagens do longa em território bósnio, que foram novamente liberadas somente após o Ministério da Cultura da Bósnia ter acesso total ao roteiro. Antes, a liberação para as gravações na Bósnia havia sido concedida com base em uma sinopse do filme.



Em se tratando de Bósnia e Bálcãs, o simples fato de tocar no assunto da guerra já é suficiente para provocar controvérsias. O grau aumenta a níveis perigosos quando os personagens principais do filme são um soldado sérvio e uma bósnia muçulmana. A suposta existência de um episódio de estupro entre ambos – até aqui, felizmente, negada – seria nitroglicerina pura.

Além do que, é claro, seria uma grande estupidez e falta de respeito com o povo bósnio por parte de Jolie. Ainda mais pelo fato da atriz ser embaixadora da Boa Vontade da Acnur, programa da ONU para refugiados – um problema crônico da Bósnia que Angelina conheceu bem em abril, quando esteve no país pela primeira vez.

A polêmica criada em torno do filme mostra como as cicatrizes das guerras dos anos 90 ainda permanecem bem abertas na Bósnia. Ao lidar com o tema, todo cuidado é pouco, seja para não esbarrar em clichês já estabelecidos, seja para não aumentar as tensões étnicas entre os povos que vivem – ou pelo menos tentam – dentro das mesmas fronteiras.

"Espero que as pessoas não julguem o filme antes de vê-lo. Decidi rodar nesta região e usar este período histórico para lembrar o que ocorreu em um passado não tão distante às vítimas que sobreviveram à guerra", disse a atriz.

As filmagens do longa já estão ocorrendo na Hungria. As gravações na Bósnia devem acontecer a partir de novembro, em Sarajevo. Mas, como são poucas as informações sobre o filme – ainda não foi divulgado qual será o nome, por exemplo –, o potencial para polêmicas a respeito do assunto parece longe de se esgotar.

sábado, 16 de outubro de 2010

Croácia celebra o Dia da Gravata

Item considerado indispensável em trajes sociais em todo o mundo – e odiado por muitos que o utilizam, a gravata tem um dia dedicado a ela na Croácia.



Explica-se: foi lá que a gravata surgiu. A história mais conhecida sobre a origem do artigo data de 1618, quando soldados croatas passaram por Paris usando um lenço no pescoço. O adereço, chamado de 'cravate' (derivado da palavra 'croata'), virou moda na França, e passou a ser usado pela nobreza e pela realeza - Luis XIV foi um dos adeptos do novo estilo. Mas foi apenas no século XX que a gravata se espalhou e se popularizou pelo mundo, sempre associada a ocasiões formais.

Outras histórias a respeito da origem da gravata remontam a lenços usados por soldados chineses e romanos no século III A.C, que serviam para proteger do calor, limpar a boca e até estancar o sangue no caso de algum ferimento.

Mas a fama de criadores da gravata ainda cabe aos croatas. E neste sábado o país comemora o Dia da Gravata, no qual soldados desfilam em trajes militares de época diante do parlamento de Zagreb, capital do país.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

As causas das badernas em Gênova e Belgrado

O que há em comum entre os dois últimos posts abaixo, de brigas de torcedores sérvios na Itália, e outro por causa de uma manifestação de homossexuais?

Resposta: A política e a história recente da Sérvia.

Os baderneiros que provocaram confusão na Itália pertencem ou possuem ligações com os mesmos grupos que trouxeram caos ao centro de Belgrado por conta da realização da Parada Gay na cidade. As torcidas organizadas sérvias são compostas por ultranacionalistas que não toleram diversidade étnica, religiosa ou cultural. Albaneses, croatas, bósnios, homossexuais ou mesmo sérvios que eles julgarem traidores da pátria, de um grupo ou clube de futebol são transformados em alvos da barbárie.

Um post para lá de esclarecedor do jornalista esportivo Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, faz a ligação não apenas entre os dois eventos violentos envolvendo grupos sérvios, mas mostra como política, nacionalismo e futebol andam de mãos dadas no país.

Para um país que luta para apagar a imagem negativa que ganhou após as guerras dos anos 90 na ex-Iugoslávia, brigas como as ocorridas em Belgrado e na Itália são exatamente o tipo de coisa das quais a Sérvia não precisa.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

No futebol, vergonha sérvia e façanha de Montenegro

Torcedores sérvios espalharam medo antes do início do jogo da seleção contra a Itália, nesta terça-feira, em Gênova, pelas eliminatórias da Eurocopa-2012. O jogo entre as duas equipes acabou cancelado por causa dos incidentes. E a baderna promovida pelos torcedores pode custar caro ao futebol da Sérvia.

Em Gênova, torcedores sérvios atacaram o ônibus da seleção do próprio país, depredaram estabelecimentos comerciais na cidade e dependência do estádio Luigi Ferraris, onde aconteceria a partida.

A Uefa, entidade que comanda o futebol na Europa já anunciou que via investigar o ocorrido na cidade italiana. A Sérvia corre o risco de ser eliminada da competição e excluída da disputa de torneios no continente. A punição pode ser estendida também para as competições de clubes. O Partizan, time da capital sérvia, Belgrado, disputa a fase de grupos da Liga dos Campeões e pode acabar prejudicado.

A punição é dura, mas será o preço a ser pago pela Sérvia pelo vandalismo dos torcedores do país e por fracassar em coibir tais torcidas – se é que podem ser considerados como tal. Péssimo para um país que já teve um de seus clubes, o Estrela Vermelha, no topo do futebol europeu e tantos jogadores de renome em clubes de ponta no continente.

Enquanto a torcida faz a Sérvia passar vergonha no cenário esportivo europeu, um país vizinho vem se destacando positivamente. É a seleção de futebol de Montenegro, que até 2006 estava ligado à Sérvia e disputa a sua segunda competição como país independente.

A equipe, que tem como principal jogador o atacante Mirko Vucinic, artilheiro da Roma (Itália), é a atual líder do grupo G das Eliminatórias da Eurocopa-2012, com três vitórias e um empate nos quatro jogos já disputados. Na última partida, ficou no empate em 0 a 0 contra a Inglaterra, na última terça, em Londres. O resultado foi considerado surpreendente e comemorado pelos montenegrinos, caçulas da Uefa, contra uma seleção que já foi campeã mundial, em 1966.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Homofobia, intolerância e vandalismo na Sérvia

Evento corriqueiro em diversas cidades pelo mundo, a realização de uma Parada Gay foi o motivo de um confronto que transformou Belgrado, a capital da Sérvia, em uma praça de guerra. O desfile acabou como destaque na imprensa internacional por causa da violenta manifestação contrária à parada, e não pela marcha em si.

Cerca de mil pessoas participavam da marcha, no último domingo. O evento era cercado de grande expectativa na Sérvia, já que, nos dias anteriores à Parada, cartazes contrários ao evento e ofensivos aos homossexuais estavam espalhados por Belgrado e outras cidades sérvias. Um forte esquema de segurança, composto por 5 mil policiais, foi preparado para a marcha – e logo percebeu-se que tal medida era necessária.

Antes do início da Parada Gay, aos gritos de “morte aos homossexuais”, cerca de 6.000 pessoas atacaram policiais com pedradas, garrafas e tijolos em diferentes acessos às ruas do desfile, no centro da cidade, onde ficam prédios de várias instituições públicas. Nos confrontos entre policiais e homófobos, 158 pessoas ficaram feridas, a maioria delas policiais. Prédios públicos e veículos foram depredados durante o confronto. Ao final, 249 pessoas foram presas.



A cena, na verdade, é uma repetição do que ocorreu na cidade em 2001, ano em que ocorreu a última parada do tipo em Belgrado. Na época, também foi alvo de manifestantes contrários à realização da marcha. A violenta reação dos homófobos provocou a suspensão da Parada Gay de Belgrado, que voltou a ser realizada neste ano.

Entre os manifestantes homófobos estão arruaceiros de grupos que já costumam provocar problemas em outras ocasiões, como integrantes de torcidas organizadas de futebol e de grupos de extrema-direita. Entre eles o ultranacionalista Obraz, comandado por Mladen Obradović, já responsável por outros atos violentos no país.

A Igreja Ortodoxa Sérvia, bastante influente no país, manifestou-se contrária ao desfile, mas condenou a violência dos extremistas.

Enquanto o debate sobre os direitos dos homossexuais avança em diversas partes do mundo, ainda engatinha na Sérvia, mesmo quando comparado a países vizinhos. Nos Bálcãs, as capitais Zagreb (Croácia) e Ljubljana (Eslovênia) já sediam edições regulares do movimento. Na Sérvia, uma pesquisa de opinião recente revela que 67% da população acredita que o homossexualismo é uma doença; para 56%, o homossexualismo representa um perigo para a sociedade; e 49% dizem que nunca tolerariam um membro gay na família.

domingo, 10 de outubro de 2010

Uma Bósnia ainda partida

O último 3 de outubro não foi dia de eleição somente no Brasil. A Bósnia também foi às urnas escolher os novos representantes do país, que se debate entre o sonho de se integrar à e as divisões político-étnicas que deixam um ar de incerteza no futuro do país.

O resultado foi menos pessimista do que o esperado pelos analistas internacionais, que previam grande abstenção dos eleitores não-alinhados com posturas nacionalistas, o que não ocorreu. Mas as tensões existentes entre os bósnios muçulmanos, croatas e sérvios mostram que o país, 15 anos após o fim da sangrenta guerra de separação da Iugoslávia, continua sendo uma terra partida.


Antes de falar da eleição propriamente dita, é necessária uma pequena explicação sobre a estrutura política do país. A Bósnia é composta por duas entidades : a Federação da Bósnia-Herzegóvina, de maioria bosniak (bósnios muçulmanos) e croata, e a Republika Srpska, do lado dos sérvio-bósnios. Cada uma das três etnias tem um presidente próprio e eles, juntos, exercem a presidência colegiada da Bósnia. Achou pouco? Pois essa fórmula incomum é só a ponta do iceberg.

Além da presidência tríplice, são 13 primeiros-ministros (um para cada entidade, um para equivalentes aos estados, mas com autonomia muito maior -dentro da Federação, e um para o distrito de Brčko, que, de acordo com decisão internacional, está submetido diretamente ao governo central e desfruta de grande autonomia); 13 constituições; 14 sistemas legais; e mais de 140 ministérios para uma população que beira os quatro milhões de habitantes, distribuídos por um território equivalente a um quinto da área do estado de São Paulo. Além disso, todos os documentos oficiais são escritos em dois alfabetos, o latino e o cirílico - mais comum nas regiões de maioria sérvia.



Agora, voltando às eleições. A votação teve participação maior do que a esperada, especialmente da porção antinacionalista do eleitorado. A principal mudança ocorreu do lado bósnio-muçulmano, com o moderado Bakir Izetbegovic, filho do ex-presidente Alija Izetbegovic, vencendo o então favorito e linha dura Haris Silajdžić, candidato à reeleição. Pelos bósnio-croatas, foi escolhido Zeljko Komsic; já os sérvio-bósnios reelegeram o conservador Nebošja Radmanović, cujo partido defende mais autonomia (e mesmo a separação da Republika Srpska), após uma disputa apertada com Mladen Ivanić, de postura mais liberal.

Em resumo, o eleitorado antinacionalista compareceu com maior força às urnas, mas ainda não o suficiente para mudar o atual panorama político da Bósnia. Os lideres sérvio-bósnios ainda querem mais autonomia, o que cria uma série de obstáculos para que a presidência tríplice da Bósnia de fato funcione – sem contar toda a estrutura já descrita acima, longe de ser um exemplo de eficiência. Entre os croatas há o desejo de que seja formada no país uma região dedicada à comunidade, a exemplo da existente para os sérvio-bósnios. Outro grande desafio é a economia, que caiu cerca de 3% em 2009, devido à crise global. Mas a complexa estrutura estatal e as disputas étnicas impedem decisões e a implantação de projetos mais duradouros para o país.

Integração à UE ou o fim do Estado bósnio nas próximas décadas, como acreditam certos políticos do país, em especial os de origem sérvia? A maior participação do eleitorado não-alinhado com as tendências nacionalistas é, certamente, a grande e positiva novidade da eleição. Se esse movimento significar o surgimento – mesmo que tardio – de uma consciência de que, sejam sérvios, croatas ou bosniaks, todos são cidadãos da Bósnia-Herzegóvina, ainda é cedo para dizer. Mas não deixa de ser um alento constatar que já existe uma parcela significativa da população que já percebeu que, independente da etnia, tentar manter uma convivência pacífica é um dos pré-requisitos para que a Bósnia possa evolui, econômica, política e socialmente.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Polônia pede à América Latina fundos para preservar Auschwitz

O campo de concentração e de extermínio de Auschwitz, no sul da Piolônia parece ser uma boa amostra de que “palavras são muito bonitas, mas que de nada valem se não forem acompanhadas de atos concretos”.

Desde 1945, a Polônia tem financiado praticamente sozinha a manutenção do antigo campo, um dos principais palcos do Holocausto, onde mais de um milhão de pessoas, em sua maioria judeus, foram assassinados. O orçamento de 2009 ficou em 7 milhões de euros. O governo polonês entra com US$ 4,6 milhões anuais, enquanto as contribuições estrangeiras são simbólicas. A fundação conta com recursos próprios, mas que são insuficientes para cobrir todos os custos. Promessas de doações existem, mas por enquanto não se tornaram atos concretos.



"Seria vergonhoso permitir que o campo de concentração desapareça", explicou o diretor da fundação Auschwitz-Birkenau, Jacek Kastelaniec, responsável pela iniciativa internacional iniciada para evitar a destruição do campo, que está ameaçado pela neve, pela água e, sobretudo, pelo tempo.

Mais barato seria reconstruir todo o campo de concentração, mas a fundação que cuida do local quer mantê-lo como ficou após o fim da Segunda Guerra, em 1945. "Nós não podemos reconstruir, o que seria mais barato, mas precisamos preservar, o que é muito mais caro", ressaltou Kastelaniec.

Agora, a fundação responsável pela administração de Auschwitz busca recursos pelo mundo para continuar conservando o local. Brasil e Argentina devem ser visitados em dezembro. O objetivo é arrecadar 120 milhões de euros até 2015.

O valor pode parecer alto, mas ainda mais caro é ter de arcar novamente com os prejuízos que o mundo teve com a Segunda Guerra Mundial – e não apenas os econômicos ou os provocados pelo nazismo. Auschwitz representa – ou deveria representar – tudo aquilo o que a humanidade já foi capaz no quesito insanidade, para que nunca mais se repita.

O local tem cerca de 200 hectares, onde existem 155 edifícios e 300 ruínas --incluindo as das câmaras de gás--, e em 1979 foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

No ano passado as instalações receberam 1,3 milhão de visitantes.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A renúncia do presidente do Kosovo

Fatmir Sejdiu, presidente do Kosovo, renuncia ao cargo após ter sido condenado por ato inconstitucional. O Tribunal Constitucional do país decidiu que Sejdiu não poderia ocupar o cargo e, ao mesmo tempo, a presidência da Liga Democrática de Kosovo (LDK). Ele estava no poder desde 2006, quando a região ainda fazia parte (formalmente) da Sérvia.

Apenas dois anos mais tarde, Sejdiu seria um dos artífices da independência da então Província sérvia proclamada de forma unilateral e contra a vontade das autoridades de Belgrado.

Segundo a Constituição kosovar, a Presidência do país deve ser agora assumida temporariamente pelo presidente do Parlamento, Jakup Krasniqi, que pertence ao governante Partido Democrático de Kosovo (PKD), liderado pelo primeiro-ministro, Hashim Thaci.

A renúncia coloca em questão a coalizão entre o partido do primeiro-ministro Hashim Thaci, um ex-líder rebelde, cujo Partido Democrático é a maior força no Parlamento de 120 cadeiras. Unida, a coalizão detém uma confortável maioria, mas Sejdiu está sob pressão de seu partido para romper a união com Thaci. Thaci elogiou a saída de Sejdiu e disse que "todos têm a obrigação de respeitar" a Constituição do país.

A julgar pelo teor das declarações, disputa de poder à vista...

Uma pergunta que não quer calar: como isso vai interferire no processo de negociação com a Sérvia? Ainda não dá para responder adequadamente a essa pergunta. Mas certamente terá reflexos no jovem país, que ainda luta contra os problemas internos (desemprego, pobreza) e externos (falta de reconhecimento internacional) para se firmar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Entre mortos e exumados

Um lago artificial entre a Bósnia e a Sérvia é o local que ocultava a mais recente vala comum encontrada na antiga Iugoslávia.

Segundo nota da agência Efe, pelo menos 348 corpos foram retirados do fundo do lago Perucac, local que faz parte de uma central hidrelétrica e foi parcialmente esvaziado para obras de reparação no sistema. A maioria dos esqueletos são de vítimas da Guerra da Bósnia (1992-1995), mas foram encontrados também oito esqueletos de soldados austrohúngaros mortos durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – naquela época, a atual Bósnia havia sido anexada pelo Império Austro-Húngaro.

Assim como em Perucac ou nas proximidades de Srebrenica ou mesmo em qualquer parte da ex-Iugoslávia, ainda deve haver diversas valas comuns ainda desconhecidas, fruto de um passado recente que custa a deixar de se fazer presente.

As exumações de corpos de vítimas das guerras da década de 1990 na Iugoslávia mostram que muito – mesmo – ainda precisa ser feito para que os jovens países emergidos dos conflitos possam acertas as contas com o passado recente. E o saldo devedor deve incluir ainda milhares de corpos a serem exumados.

domingo, 12 de setembro de 2010

O que é que o futebol da Ucrânia tem?

Até poucos anos atrás, pouco se falava no futebol da Ucrânia, ex-república soviética. Mas, para quem acompanha minimamente o noticiário esportivo, a Ucrânia deixou de ser uma mera desconhecida.

Jogadores brasileiros vão e voltam com frequência de times ucranianos. Dynamo de Kiev e Shakthar Donetsk são os dois principais representantes do futebol do país, mas que já conta com uma terceira força, o Metalist Kharkiv.
Mas afinal de contas, o que é que a Ucrânia tem que atrai e convence tantos jogadores brasileiros a tentarem a sorte em um país com uma cultura, língua e clima tão diferentes do Brasil?

A Ucrânia também tem sua história no futebol. Era de lá a base das seleções soviéticas. Com o fim da URSS e a independência da Ucrânia, o país demorou para se firmar no cenário europeu. Mas tal situação vem mudando pouco a pouco. Em 2006, a Ucrânia chegou, pela primeira vez, a uma Copa do Mundo, e não fez feio. Caiu somente nas quartas de final. Em 2012, o país sediará a Eurocopa de seleções, ao lado da Polônia.

Os clubes – embora repletos de estrangeiros – refletem esse crescimento do futebol ucraniano. O Shakthar Donetsk, por exemplo, foi campeão da Copa da UEFA (hoje Liga Europa) em 2009, em cima do Werder Bremen (Alemanha). Os times ucranianos chegam com frequência às fases de grupos da Liga Europa e da Liga dos Campeões, o mais importante torneio de clubes da Europa – possivelmente, do mundo.

Os clubes gozam de boa estrutura e pagam bons salários – este último, em especial, é o que atrai os jogadores brasileiros interessados em jogar no exterior. Quando se destacam, atraem a atenção de outros clubes europeus. Dois bons exemplos são o meia Elano e o atacante Brandão, ambos ex-jogadores do Shakthar Donetsk. Hoje, o primeiro joga na Turquia, após passagem pela Inglaterra; o outro está no futebol francês .

Aos poucos, a Ucrânia perde a fama de “país escondido”, apesar de estar longe de oferecer a mesma visibilidade de outros torneios europeus, como o espanhol e o italiano. Mas a presença de brasileiros também ajuda a elevar o nível técnico dos times e do torneio local. Ou seja, acaba sendo uma troca interessante para ambos os lados.

Claro, nem todos os brasileiros que vão parar na Ucrânia conseguem se adaptar às condições do país – apesar de tal problema também ocorrer em outros países com cultura, clima e língua mais próximos ao do Brasil. Mas a Ucrânia cada vez mais torna-se uma solução interessante para jogadores que desejam a independência financeira – argumento usado pela empresa Traffic, por exemplo, ao noticiar a venda do meia palmeirense Cleiton Xavier para o ucraniano Metalist.

domingo, 5 de setembro de 2010

Brasileiro é ídolo no futebol da Sérvia

A seleção da Sérvia de futebol deve ganhar um reforço brasileiro para os próximos jogos. É o atacante brasileiro Cleo, que atua no Partizan, time da capital Belgrado e que aceitou o convite da Federação Sérvia de futebol para se naturalizar.



Cleo tem uma trajetória inusitada. Depois de uma passagem apagada pelo Atlético-PR, entre 2005 e 2006, foi jogar na Sérvia e atuou até 2008 pelo Estrela Vermelha, outro time de Belgrado.

Dispensado pelo antigo clube, Cleo foi protagonista de uma inusitada, rara – e perigosa – situação. Quase de malas prontas para voltar ao Brasil, aceitou proposta do Partizan, arquirrival do Estrela Vermelha. A transferência não foi bem vista pelos torcedores do ex-clube. Alguns chegaram a ameaçar de morte o jogador, o primeiro desde 1988 a protagonizar uma transferência entre os dois rivais da capital sérvia. Abaixo, o link do post deste blog que relembra o caso:

http://rumoaoleste.blogspot.com/2009/08/muito-mais-do-que-uma-mera-rivalidade.html

O incidente, pelo jeito, não prejudicou a carreira de Cleo, que virou ídolo do Partizan e recebeu o convite para se naturalizar sérvio. Um vídeo, disponível no YouTube e também no blog do UOL Esporte (link abaixo) traz uma amostra do porquê a Federação Sérvia deseja que o jogador defenda as cores do país. Ele fez um gol de bicicleta neste sábado na vitória do Partizan por 2 a 0 sobre o Hajduk Kula pela Superliga da Sérvia:

http://uolesporte.blogosfera.uol.com.br/2010/09/04/brasileiro-cleo-marca-golaco-de-bicicleta-na-servia/

Em tempo: o Partizan é um dos times classificados para a fase de grupos da Liga dos Campeões, que não disputava desde a temporada 2003/2004. Está no grupo H, ao lado de Arsenal, Sporting Braga e Shakthar Donetsk. É pouco provável que o Partizan consiga repetir o feito do rival Estrela Vermelha, que foi campeão da Liga em 1990. Mas surpresas sempre podem ocorrer no futebol. De qualquer forma, será uma boa oportunidade de ver como joga o atacante brasileiro – agora com cidadania sérvia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Beslan, seis anos

O dia 1º de setembro de 2004 ficou marcado como um dos mais sangrentos da historia recente da Rússia. Nessa data, grupo de 30 terroristas islâmicos tchetchenos e árabes invadiu uma escola em Beslan, uma pequena cidade da Ossétia do Norte com cerca de 30 mil habitantes na região sul do país. Era o primeiro dia do ano letivo russo.

Os terroristas submeteram um grupo de cerca de 1.200 pessoas mais de mil pessoas a três dias sem água e sem comida. Para enfrentar o calor, as crianças tiraram suas roupas. Eles não podiam comer ou tomar água e quem tentasse beber no vaso sanitário era metralhado.

No dia 3 de setembro, aconteceu o pior. Uma explosão derrubou o teto do ginásio no qual se encontravam os reféns e terroristas. Alguns parentes das vítimas e testemunhas garantem que a explosão foi resultado de um tiro de canhão de um dos carros de combate que cercavam a escola. Outros afirmam que as forças de segurança usaram lança-chamas. Ao final da ação, 334 pessoas – 186 delas, crianças – morreram. Somente um terrorista, Nurpashi Kulayev, foi capturado com vida, sendo depois julgado e condenado a prisão perpétua.



O ataque foi fortemente condenado pela comunidade internacional. Mas, seriam os terroristas os únicos responsáveis pela tragédia? Ou o governo russo também teve sua parcela de culpa?

"Os culpados nessa tragédia não são apenas os terroristas, mas aqueles que deveriam tê-los parados, os generais. E as autoridades que os apoiam, elas não permitem qualquer investigação (independente)", afirmou Ella Kesayeva, membro do grupo Voz de Beslan. A filha dela, então com 12 anos, sobreviveu à chacina, mas dois sobrinhos e o cunhado, não.

Poucos sobreviventes ou parentes das vítimas acreditam que houve mudanças significativas desde então. Poucos estão satisfeitos com as investigações oficiais, que em grande parte colocaram a culpa do incidente sobre os terroristas e absolveram a polícia da culpa por não evitar o massacre. Em se tratando de Rússia, desconfiar da disposição do governo de averiguar o que de fato ocorreu em Beslan é mais do que necessário para evitar que a tragédia, ocorrida a seis anos, venha a cair no esquecimento.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A proeza de Madre Teresa no leste europeu

O dia 26 de agosto marcou o centenário de nascimento de Madre Teresa, que se destacou pela vida dedicada aos pobres, enfermos e desabrigados dos bairros pobres de Calcutá (Índia). Pelo conjunto de sua obra, ficou conhecida como “a santa dos pobres”.

Mas, o que Madre Teresa tem a ver com o assunto deste blog, que é leste europeu? Logo abaixo você vai perceber que tem muito a ver...

Madre Teresa, cujo nome era Agnes Gonxha Bojaxhiu, nasceu em Skopje, (Macedônia) em 26 de agosto de 1910. Os país da religiosa, de etnia albanesa, nasceram no Kosovo. O mais novo país europeu, aliás (reconhecido ou não), proclamou 2010 como o ano de Madre Teresa, por considerar a religiosa uma defensora da identidade albanesa. Na própria Albânia, uma peregrinação nacional em homenagem à religiosa também foi feita no dia 26.



No mesmo dia, na Sérvia, uma missa solene foi celebrada na Catedral do Sagrado Coração pelo arcebispo de Belgrado, Stanislav Hoevar, e uma mostra fotográfica será aberta. A celebração do centenário segue no país até o final deste ano.

De tão marcante, o trabalho da Madre Teresa foi capaz de ignorar as diferenças existentes entre as religiões (hinduísmo na Índia, Islamismo na Albânia e Kosovo, cristianismo ortodoxo na Sérvia). E ainda colocar do mesmo lado países que não se bicam no cenário internacional, como Sérvia e Kosovo. Sem dúvida, mais uma proeza da religiosa macedônio-kosovar-indiana.

Madre Teresa recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1979. Ela faleceu em 5 de setembro de 1997, aos 87 anos, e foi beatificada pelo papa João Paulo II em outubro de 2003.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Diferentes na cabeça e no coração

“Somos diferentes aqui (apontando para a cabeça) e aqui (indicando o coração)”. Esta é uma das formas pelas quais os ucranianos demonstram as diferenças que possuem em relação aos russos. Em 24 de agosto, completam-se 19 anos da declaração de independência ucraniana sobre a União Soviética, oficialmente dissolvida ao final de 1991.

Desde o colapso soviético, antigas repúblicas tentaram criar identidades diferentes de Moscou ao abolir símbolos soviéticos e disseminando suas próprias perspectivas sobre eventos centrais. Com a Ucrânia não é diferente.

Os ucranianos, apesar de terem cultura e língua próprias, estiveram ligados aos russos desde meados do século XIV. As práticas culturais ucranianas eram desestimuladas pelo Império Russo,o que não impediu seu desenvolvimento, especialmente pelo século XIX.

Após a Revolução Russa (1917), a Ucrânia obteve um breve período de independência. Em 1922, o país passou a integrar a União Soviética. Assim como outros povos que compunham a antiga federação, sofreu com o processo de “russificação”, que impunha a cultura russa e condenava práticas culturais dos demais povos.

Independente, a Ucrânia luta contra heranças do domínio soviético, como a dependência da Rússia russa em setores como o de energia – o fornecimento de gás à Ucrânia já foi cortado pelos russos mais de uma vez nos últimos anos. Outra herança, para lá de negativa, é o desastre nuclear ocorrido na usina de Cherbobyl, ocorrido em 1986 em solo ucraniano. Ao mesmo tempo, vive o dilema da maioria dos países do leste europeu: aproximar-se ou não do Ocidente e tentar achar um espaço no cenário global.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A "Maldição de Agosto" na Rússia

Coincidência ou não, o mês de agosto – que tem a fama de ser o mais agourento do calendário – tem sido farto em tragédias para a Rússia nos últimos anos. No atual mês, a Rússia enfrenta a pior onda de calor da história do país e vê florestas sendo consumidas por incêndios. A capital, Moscou, passou dias “escondida” sob a fumaça das chamas nos arredores da cidade.



A história recente russa coleciona tragédias e incidentes negativos ocorridos em agosto no país. A começar por 1998, quando a Rússia enfrentou uma grave crise financeira, que levou à desvalorização do rublo em 75% e deixou 35% da população abaixo da linha da miséria na época.

Outro incidente na história recente russa ocorrido em agosto foi o acidente com o submarino nuclear Kursk, em 12 de agosto de 2000. Morreram 118 marinheiros no acidente, que até hoje não foi devidamente esclarecido. O livro “Kursk – O Orgulho Perdido da Rússia” conta em detalhes a história do naufrágio.

A relação “amistosa” da Rússia com agosto também inclui a guerra com a vizinha Geórgia, por causa da região da Ossétia do Sul, que busca independência da Geórgia e conta com apoio russo. O conflito foi iniciado em 8 de agosto de 2008 e encerrada seis dias depois. A relação entre os dois países, no entanto, segue tensa.



Os atentados terroristas, a maioria provocados por grupos separatistas que agem no país, também são fartos em meses de agosto. Abaixo, seguem alguns:

Agosto de 2003 - Um suicida que dirigia um caminhão carregado de explosivos atinge um hospital militar em Mozdok, na Ossétia do Norte, fronteira com a Chechênia. Cerca de 50 pessoas morrem no atentando
24 de agosto de 2004 - Dois aviões com passageiros russos explodem simultaneamente e 90 pessoas morrem durante o atentado.

Agosto de 2004 - Atentado suicida mata 10 pessoas e fere outras 51 em Moscou.

Agosto de 2006 - Uma bomba mata 10 pessoas em um mercado no subúrbio de Moscou.

Agosto de 2009 - Um homem-bomba, motorista de um caminhão, é o responsável por um atentado em Nazran, a maior cidade da Inguchétia; 20 pessoas morrem e outras 138 ficam feridas.

E a lista ainda inclui a explosão na usina hidrelétrica de Shushénskaya Sayano, a maior do país, localizada na Sibéria, que matou seis pessoas e feriu outras oito.
Pelo jeito, agosto não é sinônimo de boas notícias para a Rússia. E o mês ainda está na metade...

domingo, 8 de agosto de 2010

Fim do Trabant na Alemanha?

Em 2009, falava-se demais nele pela Alemanha. Agora, o famoso veículo Trabant, símbolo da antiga Alemanha Oriental, volta ao caminho que estava tomando antes das festividades da queda do Muro de Berlim. Tornar-se cada vez raro. É o que relata o texto no link abaixo, da revista alemã Der Spiegel, traduzido pelo UOL.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2010/07/30/automoveis-trabant-da-alemanha-oriental-rumam-para-a-extincao.jhtm

Os incentivos do governo alemão para renovação da frota vão levando os antigos donos de Trabant a abandonar o velho modelo alemão-oriental por veículos mais novos e modernos. Já os Trbant são feitos de Duroplast – uma mistura de pó de resina e algodão – e a maioria deles estão,literalmente, caindo aos pedaços. A fabricação do “Trabi”, como também é conhecido, foi interrompida em 1991

Extinção total do Trabant? Não, dificilmente chegará a tanto. E não é preciso pesquisar muito para saber o porquê.



O carro, que chegou a ser considerado o pior do mundo, hoje é um símbolo cult e de nostalgia. Existem clubes dedicados ao veículo espalhados por toda a Alemanha. O velho carrinho também é uma atração turística a mais para quem visita a antiga Berlim Oriental, por exemplo. Há empresas especializadas em levar passageiros para dar uma volta nos “Trabis”. Sem contar um projeto ousado da montadora IndiKar, que pretende fabricar para 2012 veículos elétricos com estilo semelhante aos Trabant que rodavam aos montes pela Alemanha Oriental e outros países do Leste europeu.

Mesmo já fora de linha, a vida do “Trabi” mostra que ainda pode ser bem mais longa do que se pensa...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Entrar ou não na UE? Eis a questão

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o escritor albanês Ismail Kadaré acredita que somente com a entrada dos países balcânicos na UE é que eles se tornarão viáveis economicamente - claro, incluindo a terra natal dele, a Albânia.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/773082-balcas-so-sao-viaveis-na-uniao-europeia-diz-escritor-ismail-kadare.shtml

Por enquanto, Eslovênia, Bulgária e Romênia e – geograficamente falando – a Grécia são os representantes dos Bálcãs no bloco. O país da região com maior chance de ingressar no bloco hoje é a Croácia. Para Sérvia e Bósnia, outros dois países que já mostraram interesse em entrar na UE, o caminho promete ser mais longo e árduo.

Fato é que, sendo ou não da UE, os países dos Bálcãs enfrentam sérias dificuldades econômicas. A crise mundial iniciada em 2008 atingiu fortemente as economias da região. Sem contar também o fato de a maioria desses países ter enfrentado uma dura transição da economia planificada, em vigor na Guerra Fria, para a economia de mercado capitalista.

Ao mesmo tempo, existe o debate dentro da UE quanto à validade de admitir novos países no bloco – a expansão para os países do leste europeu, iniciada em 2004 com a inclusão de 10 nações, ainda é alvo de críticas por parte de políticos europeus conservadores. Em 2007, nova expansão englobou Bulgária e Romênia, até agora os integrantes mais recentes do bloco.

Não dá para esquecer também de outros dois fatores: a situação econômica do bloco não é das melhores atualmente, preocupada especialmente com o que vai acontecer com a Espanha e especialmente a Grécia, em grave crise; e da voz de certos grupos nos países dos Bálcãs que estão longe de morrer de amores pela UE, que encontram eco em setores das sociedades das nações balcânicas.

Ou seja, defender e pedir o ingresso na UE é simples. Mas ser admitido no clube não é nada fácil – e continuar nele pode ser ainda mais difícil

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Independência de Kosovo é legal, decide Corte da ONU

Por dez votos a quatro, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), máxima instância judicial da ONU, declarou nesta quinta-feira (22), em Haia, que a independência de Kosovo, em fevereiro de 2008, não violou os direitos internacionais. Ou seja, está dentro da legalidade.

O veredicto do tribunal não é vinculativo, mas representa um importante peso político e jurídico, já que até então muitos países relutavam em reconhecer a independência do Kosovo antes de uma posição mais concreta da ONU sobre o tema. A decisão da CIJ da ONU não deve mudar o posicionamento de China, Rússia, Espanha e Brasil, que não reconhecem o novo Estado e consideram o Kosovo ainda como província sérvia.

Até o momento, 69 países já reconheceram o Kosovo como nação independente. São necessários que 100 países reconheçam o novo Estado para que ganhe direito a ingressar na ONU.



Para o premiê do Kosovo, Hashim Thaci, a decisão da CIJ é “histórica”. E claro, foi comemorada pelas ruas da capital kosovar, Pristina. Mas ela não resolve os problemas pelos quais o país enfrenta, como o desemprego e a corrupção – é grande a ação de máfias no Kosovo.

De qualquer forma, a decisão representa um duro golpe na diplomacia sérvia, que nos últimos dois anos se dedicou a buscar apoio contra a independência do Kosovo. A decisão, claro, vai mexer com os ânimos nos Bálcãs. Primeiro, porque dá respaldo à independência kosovar, que ainda garimpa apoios pelo mundo e pode ajudar para que mais nações venham a reconhecer o novo país. E segundo porque representa uma derrota para os sérvios – foi a própria Sérvia que propôs que a questão do Kosovo fosse discutida pela Corte Internacional de Justiça da ONU.

Após a decisão da CIJ, o ministro sérvio das Relações Exteriores, Vuk Jeremic, disse que a Sérvia "nunca" reconhecerá a autoproclamada independência de Kosovo. O próximo passo da diplomacia sérvia deve ser discutir o tema na próxima Assembleia Geral da ONU, em setembro.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

ONU dará parecer sobre o Kosovo ainda em julho

Uma decisão da ONU promete sacudir o assunto Sérvia x Kosovo nos próximos dias.
É que a mais alta corte da instituição anunciou que emitirá parecer consultivo no próximo dia 22 de julho sobre se a declaração de independência do Kosovo, feita de forma unilateral em fevereiro de 2008, violou ou não as leis internacionais.

Muitos países vinculados à ONU esperam uma posição oficial da organização para se decidirem quanto ao reconhecimento ou não do novo país. Até o momento, 69 nações já reconheceram o Kosovo como Estado independente, incluindo a maior parte da UE e os EUA. Já países como a Espanha e a Rússia se recusam a aceitar a independência kosovar por medo de que ela possa estimular movimentos separatistas internos, como os bascos e os tchetchenos.

A decisão deve ser acompanhada de perto por sérvios e kosovares. E o veredicto da ONU, por mais que tenha somente caráter consultivo, terá papel fundamental sobre o desenrolar da questão.

Mas verdade seja dita: é impossível imaginar o Kosovo hoje como uma província da Sérvia. Deve levar um bom tempo, mas a independência kosovar deve pouco a pouco ser reconhecida pela comunidade internacional. Podde haver um ou outro ajuste, mas a independência do Kosovo é, certamente, um caminho sem volta. E não adianta a Sérvia espernear.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um brasileiro em Srebrenica

A Marcha da Paz em direção a Srebrenica, da qual falamos no post anterior, chamou a atenção do então estudante de jornalismo brasileiro Gustavo Silva, que esteve na Bósnia entre junho e julho de 2009 justamente para um trabalho de conclusão de curso sobre o massacre de Srebrenica. Ele soube do evento por acidente, aceitou o convite feito por um dos organizadores da Marcha e cumpriu todo o trajeto. A experiência será descrita por Silva em um livro, a ser lançado em breve.

Na entrevista abaixo, o agora jornalista conta como soube do evento e de impressões dele sobre a Marcha e a Bósnia. E antecipa novos projetos

De onde veio a ideia de fazer um trabalho sobre o massacre de Srebrenica?
A idéia surgiu quando Radovan Karadzic, ex-líder político dos sérvios na Bósnia, foi preso, em julho de 2008. Estava no SBT nessa época, trabalhando na editoria de Internacional do jornal da casa. O caso de Karadzic era interessante: era, até então, o criminoso de guerra mais procurado da Europa, por crimes contra a humanidade e genocídio - dentre os quais o ocorrido em Srebrenica. Eu não fazia idéia do que era Srebrenica até então. O genocídio chamou minha atenção, especialmente por essa razão: como não sei nada sobre um dos maiores crimes da história recente? Foi ai que viajei no tema - literalmente.

Como você ficou sabendo da Marcha da Paz?
Quando visitei Srebrenica pela primeira vez, fiz, por acaso, contato com uma pessoa envolvida com a organização do evento - ele, inclusive, foi um sobrevivente no massacre, e passou exatos dois meses nas florestas se escondendo. Foi ele quem fez o convite. Como minha intenção desde o início era a de estar em Srebrenica em 11 de julho, foi apenas uma questão de 'como chegar'. Optei pelo caminho mais difícil mas, com certeza, o mais interessante.

A Marcha conta com algum tipo de apoio do governo local ou internacional?
Sim. O governo bósnio colabora, por meio do exército, com a montagem dos acampamentos noturnos. ONGs locais também colaboram com o fornecimento de comida e material de divulgação.

Qual impressão ficou para você de sua passagem pela Bósnia, em especial por Srebrenica?
Tanto Srebrenica quanto a Bósnia são lugares com muitas cicatrizes abertas. Enquanto todos os mortos não forem enterrados apropriadamente (o que exclui, obviamente, corpos em valas coletivas - e muitas ainda estão ocultas). São lugares maravilhosos, com uma natureza rica e um povo acolhedor. Mas o presente está ainda muito atrelado ao passado. A guerra deixou um cenário político caótico - não há no mundo lugar como a Bósnia nesse sentido.
A maior parte da caminhada se passa nas florestas, em mata fechada. São poucos os trechos que se passam dentro de vilas, e em muitas vezes, não há ninguém para 'receber' os participantes - até porque muitas vezes não há ninguém nas casas, destruídas e/ ou abandonadas.

O que você espera da Bósnia nos próximos anos?
A principal meta do país é integrar a União Europeia. Temo que nos próximos anos isso não irá acontecer. Em muito por conta da situação política e também financeira - a crise econômica bateu forte na Bósnia, o país teve crescimento negativo de -3% no ano passado. Não espero grandes mudanças para breve. As eleições que ocorrem em outubro de 2010 serão decisivas quanto ao futuro, principalmente no que diz respeito às tensões étnicas.

Você acha que o assunto Srebrenica é /tem sido abordado devidamente pela mídia ou é subestimado?
Srebrenica ganha um minuto no noticiário quando chega o 11 de julho. E é isso. Uma das maiores tragédias humanitárias do século, o maior massacre na Europa aos a Segunda Guerra Mundial, não tem relevância midiática. Infelizmente, nenhuma surpresa. Notícias internacionais são pautadas principalmente pela relevância econômica ou geopolítica. Como a Bósnia é um país pobre e distante de nós, brasileiros, acaba ficando de fora.

Que dificuldades você encontrou durante a Marcha?
Muitas. O convite para a Marcha foi uma surpresa. Não estava preparado para tal evento. Andar 110km usando All-Star é um problema. Tempestades em mata fechada, com a terra se transformando em barro escorregadio, também. A alimentação durante o dia era complicada - pão e água, basicamente. Dormir também era um desafio, principalmente quando fiquei em uma tenda com cerca de 100 homens - sendo que um deles espirrou na minha cara enquanto dormia. Mas foi tudo isso que deixou o meu projeto com a cara que ele tem hoje - and I like it.

É possível ainda hoje encontrar na população bósnia algum resquício das tensões existentes na época da guerra?
Não exatamente, porque elas não estão se matando (risos). Mas é possível notar algumas rusgas entre as etnias, um certo ressentimento, por assim dizer. A grosso modo, os bósnio-muçulmanos são aqueles que querem a união do país, os sérvio-bósnios a separação total e os croatas a aproximação, mas com certo distanciamento.

Que pontos você destaca como mais positivos e mais negativos da Marcha?
De positivo, toda a experiência em si. Nunca fiz nada minimante parecido antes - tanto no que diz respeito meio (caminhada de 110 km em três dias, acampamentos, etc) quanto o fim (chamar a atenção para um massacre que deixou 8 mil mortos). De negativo, as dificuldades oriundas da organização - dificuldade em arrumar uma tenda para dormir, a difícil alimentação. Mas, como disse, tudo isso faz parte da experiência.

Você pensa em ir para a Bósnia novamente e refazer a marcha?
Não. Não pelo país, um dos destinos mais bacanas que já conheci, e não pela Marcha em si, um evento especial e que merece todo o apoio. Mas o mundo é muito grande e há muitas histórias pouco conhecidas para serem contadas. Meu próximo destino é Ruanda, outra terra marcada pelo genocídio.

domingo, 11 de julho de 2010

"Marcha da Morte" vira "Marcha da Paz" na Bósnia

Uma das formas encontradas na Bósnia de homenagear as cerca de 8.000 vítimas do massacre na cidade de Srebrenica, que completa 15 anos hoje, 11 de julho, foi a organização de uma marcha anual em direção à cidade, batizada de “Marcha da Paz”. O evento, que chega à sexta edição em 2010, é uma alusão a um dos episódios que se seguiram ao genocídio na cidade, conhecido como “Marcha da Morte”.



Logo após a queda de Srebrenica frente às tropas sérvias, cerca de 12.500 bósnio- muçulmanos tentaram fugir da cidade em direção a Tuzla, que estava sob controle da ONU. No caminho, em grande parte sob mata fechada, muitos acabaram encurralados e mortos por forças sérvias. Após dois meses, apenas 5.000 chegaram ao destino final porque conseguiram se esconder na floresta. O mesmo caminho percorrido pelos sobreviventes é retomado em sentido contrário pelos participantes da Marcha da Paz, com ponto final em Srebrenica – entre os quais também há remanescentes da marcha de 1995.



O ponto de partida do evento, com 110 quilômetros de extensão e percorrido em três dias, é o vilarejo de Nezuk, de onde os participantes saem no dia 8 de julho. O destino final, no dia 11, é o memorial de Potocari, já em Srebrenica, local onde ocorreu o massacre. Ao final da Marcha, os participantes assistem a uma cerimônia na qual são enterrados no memorial os corpos de vítimas do massacre que foram encontrados em valas comuns e identificados ao longo do ano. Em 2010, serão 780 pessoas, contra 572 de 2009.

São esperados 5.000 participantes neste ano, segundo Camil Durakovic, organizador da marcha e vice-prefeito de Srebrenica. Em 2009, cerca de 4.000 pessoas cumpriram os 110 km do percurso.



O evento chamou a atenção do então estudante de jornalismo brasileiro Gustavo Silva, que esteve na Bósnia entre junho e julho de 2009 justamente para um trabalho de conclusão de curso sobre o massacre de Srebrenica. Ele aceitou o convite feito por um dos organizadores da Marcha e cumpriu todo o trajeto. A experiência será descrita por Silva em um livro, a ser lançado em breve. Amanhã, uma entrevista com ele estará neste blog

sábado, 10 de julho de 2010

Uma bofetada nos sobreviventes de Srebrenica

Uma decisão da Fifa irritou a população da Bósnia. É que neste domingo, dia da final da Copa do Mundo, completam-se 15 anos do massacre ocorrido em Srebrenica, em 1995, no qual morreram cerca de 8 mil bósnio- muçulmanos frente às tropas sérvias. E a entidade máxima do futebol negou o pedido de um minuto de silêncio antes da partida final do Mundial, em memórias das vítimas do massacre.

O motivo alegado pela Fifa: na mesma data, há 50 anos, o líder sul-africano Nelson Mandela era detido devido à luta dele contra o Apartheid na África do Sul, sede da Copa neste ano.

"Esse dia tem grande significado para o continente africano e, sobretudo, para a África do Sul. Por isso, esperamos que compreendam que nenhum desses eventos horríveis será lembrado particularmente na final do Mundial", disse a carta assinada pelo secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke.

Para a presidente da Sociedade Internacional de Povos Ameaçados, a bósnia Fadila Memisevic, a argumentação do secretário-geral da Fifa foi "uma bofetada nos sobreviventes de Srebrenica".

Infelizmente, não é a primeira bofetada que os sobreviventes e famílias de vítimas de Srebrenica e de outros massacres pelo mundo levam. E é bem provável que não seja a última.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

TV da Ucrânia quer levar políticos para viverem com pobres

Um canal de TV da Ucrânia teve uma idéia que não é necessariamente inovadora, mas cairia como uma luva especialmente no Brasil: formar um reality show no qual os políticos do país viveriam durante certo junto com famílias carentes.

"Nosso objetivo é mostrar a política real na vida real, como ela realmente é", informou o diretor-geral do canal "1+1", que prepara o projeto, Aleksandr Tkachenko, à agência de noticias Efe. As gravações começam na semana que vem, e o reality tem previsão para ir ao ar a partir de setembro.

Depois de passar por essa imersão na vida real, os políticos retornarão aos escritórios para tentar resolver os problemas de seus anfitriões e "demonstrar de verdade o que podem fazer por seus compatriotas", de acordo com a produtora.

Outro dado curioso é o fato do canal ter recebido sinal verde para discutir os convites feitos aos 450 parlamentares ucranianos no próprio plenário do Legislativo do país.

Seria bom se a moda pegasse em alguns países... Especialmente no Brasil

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um atentado, uma grande guerra

Em 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo (Bósnia), então parte do império austríaco, foi aceso o estopim para um dos maiores conflitos armados da história. Nesse dia, foi assassinado o herdeiro do trono, o arquiduque Francisco Ferdinando. Sua mulher, Sofia Chotek, também morreu na ação.

O motivo do atentado: o herdeiro do trono desejava aumentar a influência das regiões eslavas no império austríaco, o que feria os objetivos expansionistas dos nacionalistas da Sérvia, que desejava incluir a Bósnia em uma futura “Grande Sérvia”. O ataque, articulado pela alta cúpula militar sérvia, foi executado por uma organização nacionalista sérvia chamada Mão Negra. O autor dos disparos foi um estudante chamado Gavrilo Princip, então com 19 anos.

Uma investigação austríaca concluiu que o atentado havia sido planejado na Sérvia, o que levou à declaração de guerra exatamente um mês depois. A Rússia, em apoio à Sérvia, declarou guerra à Áustria. Em pouco tempo, toda a Europa estaria em conflito. Começava a Primeira Guerra Mundial, que só acabaria em 1918.

Esse episódio é uma amostra de como estava o esquema de alianças na Europa entre fins do século XIX e XX e da importância da região dos Bálcãs no cenário geopolítico – com sua costumeira instabilidade. Os Bálcãs eram o pomo da discórdia entre Áustria e Rússia, dois dos grandes impérios da época. A Rússia tinha no nacionalismo sérvio uma grande força aliada, como ficou evidente no atentado de Sarajevo.

Ao final do conflito, a Áustria acabou perdendo sua posse e influência sobre territórios nos Bálcãs. A Rússia deixou a Guerra antes do fim, sacudida internamente pela Revolução Russa, mas a influência sobre os Bálcãs nunca deixou de existir por completo. Já nos próprios Bálcãs, entre outras mudanças, surgiu o Reino dos sérvios, Croatas e Eslovenos – que em 1929 trocaria seu nome para Iugoslávia – que significa Terra dos Povos Eslavos do Sul.

Com informações da Deutsche Welle

domingo, 20 de junho de 2010

Um futebolista para cônsul da Sérvia no Brasil

Ele joga há anos no futebol brasileiro e é ídolo no Flamengo, time de maior torcida no país. Mas seu nome e sotaque ao falar não negam: Dejan Petkovic é de origem sérvia, nascido na cidade de Majdanpek. Está no Brasil desde 1997, quando começou a jogar pelo Vitória da Bahia, após passagem frustrada pelo futebol espanhol.



De lá, Pet, como é conhecido no Brasil, passou por vários clubes: Vasco, Atlético-MG, Santos e Fluminense. Mas é com o Flamengo a sua relação mais íntima. O meia foi peça importante na equipe rubro-negra na conquista do Campeonato Brasileiro de 2009, mesmo já com idade avançada para o futebol moderno – está com 38 anos.

É com base nessa popularidade que Pet tem no Brasil que o ministro das relações exteriores da Sérvia, Vuk Jeremic, manifestou a intenção de nomear o meia como cônsul honorário da Sérvia no país, em busca de estreitar as relações entre Brasil e Sérvia

Jeremic deu a declaração logo após uma reunião com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, em Belgrado. No encontro, ficou acertado o fim da exigência de visto para sérvios e brasileiros entrarem nos dois países.

Por trás dessa visita, no entanto, há outros fatores ocultos. O Brasil é um dos países que ainda não reconheceu a independência do Kosovo – a posição oficial brasileira é a de que o fará caso a ONU também reconheça o novo país, o que ainda não ocorreu. Para a Sérvia, é interessante ter o apoio de um país que, independente de certos tropeços recentes na política externa, é cada vez mais importante no cenário político internacional. Para o Brasil, é uma porta aberta na região dos Bálcãs para negócios e outros acordos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tito, por dois jovens

Líder estadista e herói para alguns, déspota e assassino para outros. As opiniões sobre Tito na antiga Iugoslávia oscilam entre esses dois extremos. É verdade que Tito foi o artífice da libertação da Iugoslávia do jugo nazista na Segunda Guerra Mundial, mas também exerceu com mão de ferro seu governo sobre o país até morrer, em 1980.

Essas impressões sobre Tito ficam ainda mais fortes ao conversar com pessoas que vivem na região da antiga Iugoslávia. A admiração pelo antigo líder é maior entre as pessoas mais velhas. As mais jovens tendem a apresentar uma visão mais crítica do antigo governante, como a estudante de Medicina sérvia Ivana Vukovic, que vive em Belgrado. “Na verdade, a opinião geral é de que ele era um bom político, mas ele ferrou com a Sérvia e até hoje sofremos as consequências de sua época”.

Visão parecida com a de Ivana tem Ivo Marinovic, de Mostar (Bósnia Herzegovina). “Durante sua ditadura, Tito fez coisas boas e ruins. Ele construiu cidades, pontes, não faltava nada à população – se bem que não havia muitas opções, além de produtos iugoslavos, russos e de outros países do bloco soviético. Mas as pessoas eram como pássaros em uma gaiola, sem liberdade de expressão, para trabalhar ou viajar”, explica.

Marinovic também dá uma mostra de como Tito manteve, sob relativa harmonia, os povos que compunham a antiga Iugoslávia. “Na época, era crime você se dizer croata, por exemplo”.

As opiniões acima revelam como a questão sobre Tito e a história dos Bálcãs são muito mais complexas do que se imagina. E que os 30 anos da morte de Tito e as quase duas décadas de esfacelamento da Iugoslávia ainda permanecem como feridas mal cicatrizadas na região dos Bálcãs.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Inimigos ontem, aliados hoje

O inimigo de ontem pode vir a ser o aliado de amanhã. Essa frase se aplica bem à atual relação entre Turquia e Sérvia.

Só para relembrar: foi em uma batalha contra os turcos (a famosa Batalha do Kosovo, de 1389) que o então Império Sérvio teve sua expansão brecada pelos Bálcãs. Além do mais, perdeu sua independência e passou para o domínio dos vencedores, os otomanos, de onde saiu somente em 1875. Nos gritos nacionalistas sérvios, o ódio aos turcos – e ao que possa vir a ter alguma ligação com eles – é um elemento comum.

Rivalidades à parte, Turquia e Sérvia hoje têm muito mais convergências do que divergências. Ambos tentam o ingresso na UE, mas são vistos com desconfiança pelos demais países-membros. Ambos convivem com o separatismo à porta – enquanto s turcos têm seu maior problema em relação aos curdos a Sérvia tem no Kosovo uma dor de cabeça ainda maior, já que mesmo sem plena aceitação internacional, a separação da antiga província de maioria albanesa é praticamente irreversível.

Com tantos pontos em comum, não é de se admirar que haja uma aproximação entre os dois governos em prol de um peso maior para ambos no cenário regional e europeu. As pretensões turcas ficaram bem evidentes no post anterior. Já os sérvios querem apagar a má impressão com a qual ficou após as guerras que dissolveram a antiga Iugoslávia. Até mesmo pediram desculpas aos bósnios pelo massacre de Srebrenica, que completará 15 anos em julho, e estão empenhados na caça aos responsáveis pelo episódio. Um deles, Karadzic, já está preso e sendo julgado no Tribunal de Haia; o outro, Mladic, ainda está foragido.

A situação é mais favorável à Sérvia, de fé cristã ortodoxa. A Europa não consegue engolir com facilidade a possibilidade de um país islâmico como a Turquia ingressar na UE. A batalha promete ser longa para ambos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pegadas da Guerra do Kosovo

A guerra mais recente da história dos Bálcãs também deixa suas pegadas. Uma vala comum com cerca de 250 corpos foi encontrada perto da cidade de Raska, perto da fronteira com Kosovo, que declarou independência em 2008.

Os corpos seriam de albaneses mortos durante a guerra do Kosovo (1998-1999), na qual a então província sérvia, de maioria albanesa, lutava pela independência. Com o fim da guerra, a região ficou sob tutela da ONU até 2008, quando a região declarou independência unilateral da Sérvia. Independência esta que ainda divide a comunidade internacional, mas que acho irreversível

A Guerra do Kosovo contribuiu para manchar ainda mais a imagem da Sérvia (na época ainda adotava o nome Iugoslávia, em conjunto com Montenegro), ainda associada ao presidente Slobodan Milosevic, que morreu em 2006 enquanto respondia pelos crimes de guerra dos quais era acusado. A Otan, que interveio no conflito, também saiu manchada: acertava pontes de Belgrado, fazia barulho, mas pouco fez para coibir a limpeza étnica promovida pelo governo Milosevic.

Certeza mesmo, só a respeito dos reais perdedores: centenas de albaneses alojados em campos de refugiados em países vizinhos (Macedônia e Albânia, em especial) devido ao conflito. E pelo jeito agora já se sabe qual o destino de 250 daqueles que, em vez dos campos de refugiados, conheceram as valas comuns

terça-feira, 4 de maio de 2010

Morte de Tito completa hoje 30 anos

O 4 de maio deste ano marcou o aniversário de 30 anos da morte do ex-líder iugoslavo Josip Broz Tito.

Nascido em Kumorvec, um vilarejo da atual Croácia em 1892, Tito foi o maior responsável pela libertação da Iugoslávia do domínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, comandando a Frente de Libertação Nacional - seus integrantes eram conhecidos como partizans. Chegou ao poder no país em 1945, como primeiro-ministro, e assumiu a presidência em 1953, saindo dela somente após morrer em um hospital de Ljubljana, na atual Eslovênia.



Durante esse tempo, Tito conduziu a Iugoslávia para o bloco comunista da Europa, mas não era alinhado com o regime soviético. Isso permitiu a Tito ter maior liberdade de atuação no país e também fora dele. Tito tornou-se um dos principais expoentes do não-alinhamento durante a Guerra Fria. Em 1961, ele promoveu a Conferência Internacional dos Países Não-Alinhados, onde ficou determinado que as nações participantes tomariam uma postura de neutralidade em relação à Guerra Fria.

Outra prova de respeito da comunidade internacional em relação a Tito foi seu funeral, que reuniu em Belgrado delegações de 128 países.

Tito também conduziu com mão-de-ferro o país, não deixando que nada escapasse ao seu controle – para o bem e para o mal. Um de seus grandes méritos foi o de esfriar as disputas envolvendo os povos que compunham a Iugoslávia. Conseguia fazer com que sua autoridade fosse respeitada por todos os povos. E sua morte, para muitos, significou o começo do fim da antiga Iugoslávia, já que a partir dela os choques entre sérvios, croatas e Cia. começaram a se tornar mais intensos até explodirem de vez no começo da década de 1990

O túmulo de Tito, em Belgrado, é um dos principais pontos turísticos da atual capital sérvia. Estima-se que 17 milhões de pessoas já estiveram no local desde 1980

PS: A Avenida Marechal Tito, uma das vias mais importante do extremo leste da cidade de São Paulo, foi batizada assim em homenagem ao ex-líder iugoslavo