quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Bósnia: novo "buraco negro" na Europa?

O jornal britânico “The Independent” traz uma reportagem que pode servir de alerta aos Bálcãs. Segundo a publicação, a Bósnia está à beira de um novo conflito étnico, nos moldes daquele que assolou o país entre 1992 e 1995 logo após a separação da Iugoslávia.

http://www.independent.co.uk/news/world/europe/bosnia-is-back-on-the-brink-of-ethnic-conflict-warns-hague-1770638.html

Na Bósnia habitam sérvios, croatas e muçulmanos. Não existe de fato uma etnia bósnia (em geral são pessoas de origem croata ou mesmo sérvia que se converteram ao Islamismo). A divisão entre tais povos fica latente na organização política do país, dividido em duas entidades: a república Sérvia da Bósnia (República Sprska) e uma federação bósnio-croata. Além da burocracia que esse sistema causa na vida pública bósnia, é de se imaginar que a convivência entre as duas repúblicas não seja um modelo de pacifismo e colaboração mútua.

A matéria diz ainda que a Bósnia corre o risco de se tornar um novo “buraco negro” na Europa, caso não sejam tomadas pela comunidade internacional as devidas precauções. As feridas abertas por episódios como o Massacre de Srebrenica, em 1995, ainda não estão devidamente cicatrizadas. Prova disso é outra matéria, esta veiculada no portal IG

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2007/11/11/representante_internacional_na_bosnia_adverte_para_agravamento_da_situacao_1077938.html
Fato é que a questão bósnia foi deixada de lado com o fim da sangrenta guerra de independência do país, encerrada pelo Acordo de Paz de Dayton, pouco depois de Srebrenica. Ainda existem algumas poucas tropas internacionais por lá, mas a questão em si está há muito tempo esquecida pela comunidade internacional.
O assunto principal relacionado com os Bálcãs atualmente ainda é a querela entre Sérvia e Kosovo, mas a questão bósnia não pode ser deixada de lado, especialmente por causa de sua complexidade e potencial explosivo para uma região que nunca gozou de longos períodos de estabilidade política, econômica e geopolítica.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Muito mais do que uma mera rivalidade

A transferência do atacante brasileiro Cléo, que trocou o Estrela Vermelha, da Sérvia, pelo rival Partizan, mexeu com as torcidas dos dois principais times da capital do país, Belgrado. De insultado e até ameaçado de morte pelos torcedores do antigo clube a novo xodó do time rival, o caso sintetiza bem o sentimento de amor e ódio que o esporte desperta por lá.

A rivalidade e a tensão entre as torcidas de Estrela Vermelha e Partizan faz inveja às violentas torcidas organizadas brasileiras. É considerada uma das maiores rivalidades entre dois times de uma mesma cidade no mundo (os chamados "dérbis"), segundo ranking divulgado pela rede de TV americana CNN. Torcedores do Estrela chamam os simpatizantes do Partizan de “croatas” – termo que na Sérvia soa pejorativo.

Sérvios e croatas, em verdade, não se toleram, o que fica bem claro ao lembrar os últimos conflitos entre esses dois povos – desde brigas em estádios de futebol até as guerras que desintegraram a antiga Federação Iugoslava. Os que são chamados de herois na Sérvia são considerados assassinos pelos croatas – e vice-versa.

A origem para essa ofensa está na formação do próprio time do Partizan, que é da mesma época do Estrela (1945). A diferença é que alguns dos atletas que vieram para o Partizan tinham como origem outro time, o Gradjanski Zagreb, de Zagreb (atual capital da Croácia). Partizan é também o nome do exército que libertou a Iugoslávia da dominação nazista na Segunda Guerra Mundial, sob o comanado de Josif Broz Tito – o mesmo que governou a Iugoslávia com mão de ferro entre 1945 e 1980 e conseguiu manter a colcha de retalhos que era a Federação Iugoslava com uma certa ordem e paz. Em tempo: Tito é de origem croata, para revolta dos sérvios mais exaltados.

Como pode-se perceber, a ofensa ao atacante brasileiro que teve a ousadia (inconsciente, é claro, mas não deixa de ser uma) de se transferir do Estrela Vermelha para o Partizan é apenas a ponta do iceberg de uma relação extremamente tensa existente dentro da sociedade sérvia e da região dos Bálcãs em si.