terça-feira, 31 de março de 2009

Em livro, escritor austríaco fala de enclave sérvio no Kosovo

"Nesta visita, ao contrário das vezes anteriores, a pretensão não era meramente a de estar lá, comemorar junto, olhar e ouvir. Algo me compelia a indagar extensivamente uma pessoa ou outra, avulsa, no Kosovo sérvio, de forma por assim dizer sistemática, no papel de um repórter ou – por mim! – no papel de um jornalista, e anotar as respectivas respostas. E isso eu queria fazer em um lugar onde eu já estivera antes, e não só uma vez, no enclave sérvio de Velika Hoča, ВЕΛИКА ХОЧА, uma vila no sul do Kosovo."

Isto é o que busca o escritor austríaco Peter Handke no livro "Die Kuckucke von Velika Hoča – Eine Nachschrift" (Os Cucos de Velika Hoča – Um Pós-Escrito), lançado neste mês na Alemanha - não há obras suas traduzidas para o português. A matéria abaixo, da Deutsche Welle, trata desta nova obra de Handke, cuja família é de origem eslovena.

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4114656,00.html

A temática dos Bálcãs é uma constante na obra de Handke, que já causou controvérsia pelas suas declarações anti-OTAN e a favor da Sérvia durante a Guerra do Kosovo, em 1999, quando criticou a política belicista da OTAN e os ataques a Belgrado.

Seu lado pró-Sérvia também fica evidente neste trecho da matéria: Ao enveredar numa caminhada pelos arredores albaneses, o caminhante é confrontado com o silêncio, sentindo falta de ruídos na paisagem. Não se ouvem nem mesmo os cucos onipresentes, notados pelo viajante imediatamente após sua chegada ao lugar. Uma imagem antípoda à "terra sonora", como Handke já descrevera a Sérvia. Ele também critica a "pretensa" neutralidade da mídia alemã, bastante ligada em assuntos relacionados com os Bálcãs.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A "Guerra Fria" entre Rússia x Otan

O avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre os países do antigo bloco chefiado pela União Soviética na Guerra Fria vem irritando os russos. E estes pelo jeito já tomam suas providências - sem é claro, toda aquela tensão que tomou conta da Europa na segunda metade do século XX.

Na seman passada, o presidente russo Dmitri Meedvedeev anunciou o reaparelhamento das Forças Armadas do país até 2011 para fazer frente ao crescimento da aliança militar ocidental, que sobreviveu ao fim da Guerra Fria. Em matéria da BBC Brasil de hoje (30/03), tema é retomado, desta vez enfatizando a intenção dos russos de consolidar sua influência sobre os vizinhos gastando bilhões em defesa.

http://noticias.uol.com.br/bbc/2009/03/30/ult36u46441.jhtm


E aí vai mais uma episódio nessa disputa. A Ucrânia – que há alguns anos vive às turras com os russos – é um dos países que pleiteia o ingresso na Otan. No entanto, a minoria russa que vive por lá não está gostando nem um pouco dessa aproximação Otan-Ucrânia. A foto abaixo mostra um protesto da minoria russa no momento da chegada de um dos navios da Otan no litoral ucraniano.


Outro país que sonha em ingressar na Otan é a Geórgia – a mesma que esteve em guerra contra a Rússia pelo controle das províncias rebeldes da Ossétia do Sul e da Abhkázia durante a Olimpíada de Pequim. A guerra, apesar de vencida pela Rússia nas armas, revelou deficiências do exército russo – problemas que devem ser alvo desse novo investimento em defesa anunciado pelo governo.

Por episódios como esse, dá para perceber que certos cacoetes da Guerra Fria, que acabou oficialmente em 1990, ainda continuam bem vivos no cenário geopolítico internacional. Apesar de não ser a mesma dos tempos da União Soviética e de estar sendo duramente afetada pela crise, a Rússia está bem longe de virar galiha morta na política internacional. É ainda um ator de peso nesse cenário e fará de tudo para manter esse status. Na diplomacia e nas armas, por mais que estas não sejam usadas - como não foram utilizadas até hoje as armas nucleares.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Quebradeira, crise e sombras sobre o Leste europeu

A crise também atinge com força os países do Leste europeu. Três governos já sucumbiram aos seus efeitos. Reportagem do jornal espanhol El País relatou o problema de forma bastante ampla (Abaixo, links para a matéria em espanhol e a versão traduzida para o português pelo UOL).

http://www.elpais.com/articulo/internacional/turbulencias/economia/hacen/caer/gobiernos/Europa/elpepuint/20090325elpepuint_12/Tes

ou

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2009/03/26/ult581u3128.jhtm

Em grande parte financiados por investimentos estrangeiros, potencializados com a entrada de alguns destes países na UE (União Europeia), a crise tem sido especialmente dura com os países do Leste, que devem grande parte de seu crescimento nos últimos anos ao ingresso na UE. Déficits públicos somados a vultuosas dívidas externas em euro, somadas à já costumeira instabilidade política desses países, são um prato cheio para um cenário de crise generalizada, com a economia estagnada de um lado e os protestos populares de outro – gerando sérios distúrbios sociais.

Governos de três países já caíram em virtude da crise econômica e de seus derivados políticos e sociais: Letônia, Hungria e, mais recentemente, da República Tcheca. Os dois primeiros, junto com a Romênia, já recorreram ao FMI para tentar obter algum alívio contra a escassez de crédito internacional e evitar um colapso econômico.

Outros países da região ainda conseguem enfrentar com relativa tranqüilidade a atual crise, como Polônia, Eslovênia, Eslováquia e até mesmo a República Tcheca, como mostra matéria da AFP abaixo:

http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hpKbiWDfJvlftydO50GGZ0gcKtDw


O cenário atual dá margem para uma série de questionamentos. Teria sido um passo maior do que a perna para a UE aceitar o ingresso de dez novos países de uma vez (a maioria deles do Leste) em 2004, e da Bulgária e Romênia em 2007? Na Alemanha, já há a intenção de barrar a entrada de novos países na UE, o que desagrada as nações balcânicas – teoricamente, as próximas a se juntarem ao bloco.

Para os que ainda não entraram no bloco, como a Sérvia (que precisou de US$ 4 bilhões do FMI para reforçar o dinar, moeda nacional que já perdeu 25% de seu valor nos últimos meses), ainda vale a pena esse ingresso ou a atual crise é uma mostra de que o sonho acabou e que a UE não é o melhor caminho para os países do Leste?

Esse tipo de debate deve aparecer não apenas no Leste, mas também na Europa Ocidental, grande financiadora dos países do Leste europeu visando fortalecer suas economias e, consequentemente as suas próprias e do bloco como um todo. Mas com os parceiros do Leste sem ter como pagar as dívidas, os do Oeste não têm de quem receber. Ou seja: quem vai pagar as contas, quando e como?

Está formado um cenário que é difícil saber onde vai dar, mas que as conseqüências diretas e imediatas desse balde de água fria na economia europeia serão bastante duras. E não adiantará a adoção de uma fórmula mágica para todos. Para cada doente será uma receita médica diferente. E ao mesmo tempo em que cada qual terá que fazer por si para superar a crise, não será possível fazer de conta de que se vive em uma ilha e tentar fazer tudo sozinho. Aí está a globalização, para o bem e para o mal. E é com ela presente que todos os países do globo tentarão, cada um fazendo por si e em conjunto, superar a atual fase - mesmo que o atual modelo econômico se torne letra morta num futuro próximo, o que em tempos de crise geral como a atual, não chegaria a ser uma surpresa.

terça-feira, 24 de março de 2009

Bar reflete disputa territorial entre Croácia e Eslovênia

Os Bálcãs continuam a dar exemplos de fatos curiosos que na verdade significam muito mais do que aparentam em um primeiro momento. Acabam refletindo todo um contexto social, político e/ou econômico.

É assim na Taverna Kalin, situada entre as cidades de Obrezje, na Eslovênia, e Bregana, na Croácia, duas ex-repúblicas iugolsavas. A fronteira entre os dois países passa exatamente dentro do bar, que pintou no chão uma linha amarela demarcando os limites dos dois países dentro do estabelecimento para não haver confusão. Mas os ânimos estão exaltados entre croatas e eslovenos, e a reportagem do The New York Times (traduzida pelo UOL) conta essa história:

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/03/24/ult574u9247.jhtm







"Isto aqui são os Bálcãs, de forma que qualquer pedacinho de terra é importante", afirma Sasha Kalin, dono da taverna. E sua frase é reveladora da situação e das disputas não apenas entre os dois países, mas nos Bálcãs como um todo, já flagelados por sangrentas disputas de território entre os povos que habitam a região.


No caso de Croácia e Eslovênia, a disputa da vez é de uma área na Baía de Piran que inclui cerca de 21 quilômetros quadrados do Mar Adriático. A Croácia deseja que a fronteira seja traçada no meio da baía, mas a Eslovênia rejeita a ideia, afirmando que uma simples divisão impediria os seus navios de ter acesso direto ao alto mar. Diga-se de passagem, a Eslovênia possui um litoral quase ínfimo, enquanto os croatas herdaram grande parte da costa da antiga Iugoslávia - como pode ser vista nesse mapa abaixo:




Ambos fizeram parte do império Austro-Húngaro, que acabou com o fim da Primeira Guerra Mundial, e tem a religião católica como fé predominante. Apesar da série de conflitos que assolaram a antiga Iugoslávia, eslovenos e croatas nunca guerrearam entre si.

As semelhanças e pontos cordiais acabam aí. Os eslovenos desprezam os croatas, que consideram desrespeitadores da lei, preguiçosos e excessivamente nacionalistas. Já os croatas ridicularizam os eslovenos por seu pequeno território e consideram seus habitantes pretensiosos e desprovidos de senso de humor. O fato de a Eslovênia fazer parte da UE desde 2004 - bloco econômico que é objeto de desejo nos Bálcãs, inclusive da Croácia – dá uma apimentada na relação entre os dois países.

A exemplo de outras disputas nos Bálcãs, um acaba se tornando empecilho ao outro. No caso, as negociações para o ingresso da Croácia na UE foram paralisadas pela Eslovênia no fim do ano passado, e o mesmo corre o risco de ocorrer no ingresso croata na Otan – previsto para ocorrer em abril, junto com a Albânia. Tudo isso por causa da disputa litorânea entre os dois países, e nenhum deles dá entender que vai ceder alguma coisa ao outro lado. E em se tratando de Bálcãs, tudo pode acontecer. E qualquer incidente pode ter consequências supreendentes, para o bem e para o mal.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Liga regional de clubes dos Bálcãs

Clubes de futebol dos Bálcãs pensam em criar uma liga regional para reforçar os times dessa região, para que estes possam encarar os principais tomes da Europa de igual para igual. No vídeo abaixo (basta acessar o link) o presidente da UEFA, o ex-jogador francês Michel Platini, comenta a iniciativa.



Apesar de bons jogadores de grandes clubes da Europa terem nascido nos Bálcas - é comum um grande clube ter em seu plantel algum atleta nascido nessa região - isso não se reflete nos times desses países. No caso dos Bálcãs, o último clube a alcançar um título de expressão foi o Estrela Vermelha, de Belgrado (Sérvia), que conquistou a Liga dos Campeões em 1990, ainda como time iugoslavo.

Em 2008, o Zenit St. Petersburgo, da Rússia, conquistou a Copa da Uefa ao vencer o Glasgow Rangers (Escócia). Em 2005, outro time russo, o CSKA Moscow, também levou a taça do torneio ao bater o Sporting (Portugal). Ainda assim, os clubes do Leste Europeu ainda são considerados zebras perante os grandes times europeus.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Macedônia: O nome da discórdia

Até um nome pode virar motivo para discórdias no Bálcãs: é o que acontece na verdade entre Macedônia e Grécia.


Ex-república iugoslava, a Macedônia não teria esse nome se dependesse da sua vizinha, a Grécia. Isso porque há uma região no norte do país também chamada de Macedônia - para os gregos, reconhecer a antiga república iugoslava com o nome de Macedônia poderia levar o vizinho do norte a reivindicar o território hoje ocupado pela Grécia (que também se chama Macedônia) e que abriga uma de suas maioresa cidades, Salonica. Os gregos também argumentam que o nome Macedônia lhes pertence historicamente.



A objeção grega retardou o ingresso da antiga república iugoslava na ONU, que só ocorreu em 1996, quando esta adotou o nome - provisório e ilusório, na verdade - de “Antiga República Iugoslava da Macedônia” (FYROM). Na Otan, não teve choro, nem vela, e o veto permaneceu. Na prática, só a Grécia considera a Macedônia com tal nomenclatura.



A disputa entre os dois países já foi parar no Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), que julga crimes de guerra - um punhado deles, inclusive, cometidos por militares e governantes dos Bálcãs nos anos 90. Não foi tomada nenhuma decisão a respeito da disputa, mas a tendência é que a Macedônia faça valer sua vontade de ser reconhecida pelo nome que reivindica, para decepção dos gregos.



Ironia da história, foi pelas mãos da Macedônia que a cultura grega se espalhou por boa parte do mundo antigo, especialmente pelo antigo império persa e chegando quase às terras que hoje pertencem à Índia. No século IV a.C., sob o reinado de Filipe II, a Macedônia vence as cidades gregas e conquista a Grécia. Seu filho, Alexandre III, mais conhecido como Alexandre o Grande, terminou por levar a cultura grega a outros povos do mundo antigo. Após a morte de Alexandre, o reino teve momentos de crise e estabilidade até ser conquistado em definitivo pelos romanos em 146 a.C. Depois de Roma, passou pelas mãos dos eslavos, búlgaro, Império Bizantino e Otomano, antes de tornar-se parte da Iugoslávia em 1919. A independência só veio de fato em 1991 - e com forte oposição grega.